Materiais:
Enviada em: 29/10/2017

Os chamados "boticários" eram aqueles que, no Brasil colonial, prescreviam receitas de remédio para a população mesmo sem possuir uma base científica consolidada. Cerca de 500 anos depois, entretanto, infere-se que os boticários ainda estão presentes quando, no século XXI, persiste a prática de se automedicar sem indicação médica. Dessa forma, sendo a automedicação prejudicial à saúde, convém analisar dois aspectos importantes: os motivos e as consequências deste tipo de atitude.          A princípio, vale ressaltar que a desinformação não é a principal causa que leva as pessoas ao consumo de medicamentos por conta própria. Segundo dados do Instituto Hibou, 74% da população brasileira sabe que a automedicação é um ato perigoso e que possui efeitos maléficos. Sendo assim, pode-se dizer que a problemática não advém da falta de informação, mas sim de questões políticas, uma vez que, com o sistema público de saúde falho (filas gigantescas, atendimento precário e falta de médicos), o indivíduo, com o intuito de evitar a situação degradante em que se encontram os hospitais, opta por ingerir os fármacos sozinho, sem orientação de um profissional adequado e no conforto de sua residência. Somado a isso, a mídia contribui consideravelmente para a disseminação de práticas automédicas no momento em que divulga, a todo instante, comerciais de medicamentos intitulados de "alívio imediato". Desse modo, os cidadãos possuem  inúmeros motivos para se automedicarem.       Como consequência desse ato, o uso indiscriminado de antibióticos, por exemplo, favorece o avanço de superbactérias. Sem acompanhamento médico, as pessoas, em muitos casos, especulam incorretamente a quantidade de dias de consumo do remédio. Nesse contexto, a ingestão errônea pode ocasionar a sobrevivência de certas bactérias; estas, por sua vez, são resistentes e se adaptam ao ambiente em virtude da seleção natural. Para combatê-las, são necessários antibióticos mais fortes –que ainda não existem – e, consequentemente, mais caros e de difícil acesso à população por razões financeiras. Dessa maneira, tendo em vista que a automedicação é praticada por 90% dos brasileiros e que as superbactérias estão avançando no país, de acordo com a OMS, é de extrema importância a extinção desse costume feito desde o período colonial.       A fim de garantir, destarte, a eliminação desse hábito, é imperioso que o Ministério das Comunicações desautorize a veiculação de comerciais que induzam o indivíduo a automedicar-se e puna, com multas,  os suportes de propaganda que infringirem tal medida. Além disso, o governo, em consonância com o Ministério da Saúde, deve direcionar, com urgência, os gastos públicos para o sistema de saúde, com o fito de melhorar a infraestrutura e o atendimento dos hospitais, pois, conforme o artigo 5º da Constituição de 1988: o bem-estar é direito do cidadão e dever do Estado.