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Enviada em: 01/05/2018

Na mitologia grega, Zeus presenteou Pandora com uma caixa que continha todos os males do mundo e a esperança. Pandora, dotada de curiosidade, abriu a caixa e percebendo que todos os problemas estavam surgindo, ela fechou antes que a esperança também saísse. Apesar do conto ser fictício, ao observar o constante aumento dos usuários de crack no Brasil e a violência resultante disso, percebe-se que o mal parece mesmo ter sido liberto. Assim, enxergar essa epidemia como uma questão social e de saúde pública é imprescindível para encontrar caminhos que resolvam essa problemática.       Ser dependente químico já foi sinônimo de classe social baixa. No entanto, numa era moderna e capitalista, marcada por intensa cobrança, a droga pode ser um falso refúgio para todos que se sentem pressionados pelo sistema, independente da renda. Isso acontece porque o ser humano quer ser feliz e, diante de tantas preocupações advindas de um modelo econômico e social que só visa a produtividade, fica cada vez mais difícil. Assim, o crack se torna bastante atrativo, pois é uma forma de fugir dessa realidade opressiva. Ou seja, o problema não está só no indivíduo, mas também, como já disse o sociólogo Foucault, nas normas impostas pela sociedade, que aprisionam o homem e o transforma em "doente", por não se adequar.       Pontua-se, ainda, que o fato da sociedade brasileira encarar o problema do crack mais como uma questão de polícia do que de saúde pública, faz com que ele se torne ainda mais difícil de ser resolvido. Essa ideia pode ser justificada pela concepção de que é muito mais cômodo excluir e punir do que acolher e curar. Desse modo, a sociedade deixa de perceber que quanto mais perigosa a droga for, maior deveria ser o controle do Estado sobre ela e a falta dessa percepção contribui para que as instituições e os profissionais de saúde fiquem alienados quanto a melhor forma de proceder com os usuários de crack. Para ilustrar esse argumento existe a própria lei 11.343 do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, a qual mostra que o dependente químico não tem capacidade cognitiva e o discernimento necessário para ser considerado capaz aos atos da vida civil, isto é, mais do que caso de polícia, o crack é um problema de saúde pública.       Nota-se, portanto, que medidas devem ser tomadas para que o crack deixe de ser uma epidemia no Brasil. Logo, o Ministério de Saúde deve investir uma parte de suas verbas na construção de instituições de saúde que acolham os usuários de crack, concedendo alimento e moradia temporária para os que precisassem, bem como assistência psicológica para todos, no intuito de mostrar aos drogados que eles têm o apoio necessário para mudar de vida e deixar de fugir dos problemas que o amedrontam. Seguindo esse caminho, a esperança vai, enfim, sair da "caixa".