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Enviada em: 29/10/2018

O crack é uma substância psicoativa derivada da cocaína, que possui um enorme potencial causador de dependência psíquico-fisiológica no usuário, devido a velocidade instantânea com que a droga é absorvida pelo organismo humano. Não obstante, a facilidade de acesso e os preços baixos de aquisição impulsionam o tráfico, no fomento da ocupação do espaço que pertencia outrora a outras drogas, tais como o éter, a cola de sapateiro e o álcool. Doravante, o preconceito e a veiculação de informações parciais pela mídia personificaram o crack em uma entidade demoníaca e mortal, pela qual o dependente estaria no último estádio do vício, sem "salvação". A priori, considerar não somente a droga, mas também o sujeito e seu contexto sociocultural é um dos caminhos de reversão da dependência química, que deve ser elencado à desconstrução de falsas premissas segregacionistas.       Segundo a pesquisa Crack e Exclusão Social, divulgada pela Fiocruz, oito em cada dez usuários de crack são negros e não concluíram o ensino médio. Além disso, 40% dos dependentes químicos dessa substância são moradores de rua e já passaram pelo sistema prisional. Por conseguinte, ao contrário do senso comum, o crack não é a causa da exclusão social desses indivíduos, mas um dos elementos que mais reforçam esse processo, estruturalmente anterior ao vício. A despeito disso, a medida em que os canais de comunicação em massa distorcem a multiplicidade de fatores que abarcam a dependência química, reforça-se na população a cobrança pelo higienismo social.        A posteriori, o maior desafio é manter o indivíduo longe da substância psicoativa, em seu cotidiano. Esse processo é antípoda do enclausuramento; no entanto, desde a promulgação da Lei de Drogas, em 2006, a aplicação disfuncional dos critérios propostos e o julgamento subjetivo acerca do enquadramento em traficante ou usuário, traduziram-se no aumento de 14% para 28% de prisões por dependência química, desde a publicação do documento legislativo, conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Depen).        Portanto, a endemia da dependência do crack agrava problemas sociais, como a miséria e a mendicância, bem como superlota o sistema penitenciário pelo encarceramento distópico. Nesse sentido, é necessário que haja debate entre as Secretarias de Segurança Pública, os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS ad) e as Prefeituras Municipais, no fomento da aplicação de políticas sociais de saúde e reintegração do dependente químico na comunidade, na família e no mercado de trabalho. Isso pode ser realizado por meio das Comunidades Terapêuticas, na oferta de serviços públicos em troca de remuneração e no acompanhamento multidisciplinar do indivíduo. Lato sensu, essas medidas humanitárias necessitarão de muito apoio da sociedade civil.