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Enviada em: 12/09/2017

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vive-se a modernidade líquida, em que os valores encontram-se enfraquecidos e os indivíduos priorizam suprir suas próprias necessidades, sujeitando o próximo a uma posição de mercadoria, a qual pode ser descartada quando não for mais útil. Nesse sentido, toda realidade que destoa do mundo teoricamente perfeito do capitalismo é simplesmente marginalizado. Dessa forma, a problemática do crack é um dos piores sintomas de uma sociedade excludente e perversa, que contribui para a falta de perspectiva e para o desenvolvimento de traumas.    Deve-se discutir, precipuamente, que a marginalização do indivíduo, embora naturalizada na sociedade brasileira de uma egocentrismo patológico, causa danos psíquicos e acentua a vulnerabilidade das pessoas, que recorrem ao uso de drogas como o crack, cujas substâncias psicoativas têm rápido efeito em "desligar" a pessoa da realidade e, por isso, torna-se viciante.Nesse contexto, deve-se realizar medidas que diminuam a exclusão social e devolvam a dignidade ao ser humano, propondo uma sociedade que defenda a meritocracia, mas dê oportunidades iguais a todos. Dessa maneira, o problema do crack não deve ser resolvido com violência, pois as pessoas estão na Cracolância pois já foram muito violentadas por uma sociedade mascarada de democrática.        Em contrapartida, a problemática do crack é abordada com uma problema de segurança pública e, devido a isso, tenta-se combater, sem sucesso, as consequências do problema e não as suas causas. Nessa perspectiva, o novo prefeito de São Paulo, João Doria, desenvolveu o projeto Redenção, que objetiva destruir os pontos de uso da droga e internar compulsoriamente os usuários de crack. Apesar das tentativas, segundo pesquisas da Unifesp, apenas 2% dos internados compulsórios tiveram sucesso no tratamento. Além disso, o projeto Redenção faz uso da violência policial para internar os usuários, o que representa um claro desrespeito a Declaração dos Direitos Humanos, a qual diz que o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e segurança pessoal. Logo, medidas como essa não devem ser utilizadas, ao passo em que o crack caracteriza-se como um problema de saúde pública.       Torna-se evidente, portanto, que a epidemia do crack deve ser combatida de forma respeitosa e eficaz. Nesse sentido, é fundamental que haja métodos ambulatoriais, a fim de tornar acessível os cuidados médicos, e acompanhamento que objetive a redução gradativa da dependência, por meio da ação de agentes de saúde e especialistas da área psiquiátrica para tratar de depressões e traumas dos usuários. Ademais, o Estado em conjunto com a iniciativa privada devem ofertar oportunidades de emprego e moradia para as pessoas em tratamento, com o intuito de reinseri-las no meio social, dar autonomia e ampliar seus direitos fundamentais. Assim, será possível transformar essa triste realidade.