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Enviada em: 01/11/2018

O proeminente escritor brasileiro Machado de Assis abordou em sua obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas" a tese de que o menino é o pai do homem. O sentido pretendido pelo autor era revelar de que forma as vivências de um indivíduo enquanto criança determinam suas características quando adulto. Atualmente, essa relação mostra-se gravemente prejudicada em função dos traumas causados pelo abuso sexual de crianças e adolescentes na internet, os quais muitas vezes reverberam de forma permanente na vida das vítimas. O problema se relaciona com o ambiente de relativo anonimato oferecido pelo meio virtual e também com a falta de acompanhamento das famílias junto aos hábitos dos filhos na rede.       O surgimento da internet na década de 1960 significou a abertura de uma gama de possibilidades para o desenvolvimento humano em escala global. A ubiquidade dessa tecnologia nos dias atuais, porém, faz com que ela também seja utilizada para fins pouco nobres, como o aliciamento de menores e a proliferação de conteúdo sexual impróprio. Muitos desses infratores valem-se da promessa de anonimato oferecida pela rede mundial de computadores para perpetrar crimes contra a integridade física, psíquica e moral dos jovens, contrariando o estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente. A impunidade, porém, não é garantida, como demonstram as várias operações recentes coordenadas pelo Ministério Extraordinário de Segurança Pública, como a Luz na Infância, que mostrou-se a maior do Brasil no combate a crimes cibernéticos contra crianças.       Além disso, um dos principais fatores de risco para as ocorrências de abuso infantil na internet é o monitoramento insuficiente dos pais e responsáveis quanto ao uso da rede pelos pequenos. Estudo divulgado pela revista Época revela que 60% das crianças brasileiras de 7 a 12 anos utilizam redes sociais, mesmo com a restrição de idade estabelecida por muitos desses serviços a essa faixa etária. Outro levantamento, realizado pela ONG Safernet, mostra que cerca de 20% das crianças que usam internet acessam imagens ou vídeos de teor sexual, muitos deles pela rede social.        Diante dos alarmantes perigos oferecidos pelo uso criminoso da internet por pedófilos, faz-se necessária a criação de um banco de dados unificado das polícias estaduais e Federal no sentido de combater esses crimes utilizando tecnologias de inteligência artificial que possam identificar esse tipo de conteúdo, agilizando o processo de investigação. Às escolas, cabe o desenvolvimento de um projeto pedagógico que inclua a educação sexual no currículo das crianças, abordando o tema de forma adequada à idade dos alunos e no sentido de informá-los quanto aos seus direitos sobre seu corpo e sobre eventuais práticas inadequadas de que eles possam estar sendo vítimas, favorecendo o diálogo.