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Enviada em: 05/07/2018

Em 2017, após dez anos, a ONG Ação da Cidadania retornou sua campanha "Natal Sem Fome", arrecadando e distribuindo 900 toneladas de alimentos em todo o país. É inegável a importância de campanhas desse tipo, principalmente quando o número de brasileiros que se encontram em situação de fome tem crescido nos últimos anos. Nesse sentido, é fundamental discutir como o a atual crise econômica e a não implementação de uma estratégia nacional de segurança alimentar têm contribuído para esse quadro.   Em primeiro lugar, é preciso atentar para o fato de que a atual estagnação e desequilíbrio da economia nacional tem permitido que miséria ronde a parcela mais fragilizada da população. No Brasil, a fome é historicamente ligada a pobreza extrema, e com o aumento do desemprego e a restrição aos gastos públicos, houve um agravamento desse cenário. Ao restringir os recursos, as pastas do governo que atendem aos setores socialmente mais vulneráveis têm seus orçamentos limitados ou extintos, impossibilitando a sustentação de programas sociais ligados direta e indiretamente ao combate a fome, como a distribuição de cestas básicas e a construção de cisternas em áreas de seca.  Nesse contexto, é preciso evidenciar, também, que o Brasil não possui um projeto nacional que vise a segurança alimentar de sua população. Para isso, é necessário um plano nacional concreto que vise o combate a fome em suas raízes mais profundas: concentração fundiária e a desigualdade social. Apesar de o Brasil ser o país com a maior quantidade de terras agricultáveis no mundo, a maior parte delas são utilizadas em monoculturas voltadas para a exportação - como soja e milho- e se concentram nas mãos de poucos. Logo, a riqueza produzida nesses terrenos não é dividida com uma maior parcela da população, gerando um círculo vicioso de concentração de acúmulo de renda e terras, e contribui para que a fome continue a ser um fantasma na sociedade brasileira. Torna-se evidente, portanto, a importância de se debater como evitar que o Brasil volte ao Mapa da Fome. Para isso, o caminho natural seria o governo investir em políticas públicas que fortaleçam a economia, como estímulo ao trabalho formal e aumento do salário mínimo acima da inflação. Além disso, ONGs poderiam auxiliar os órgãos públicos na manutenção, fortalecimento e ampliação de programas sociais como o Programa de Aquisição de Alimentos- o PAA- que estimulam a agricultura familiar e distribuição de parte do que é produzido é distribuído em cozinhas comunitárias e escolas públicas, auxiliando, também, na criação de empregos e no combate a fome entre as populações mais vulneráveis. É fundamental, também, que o processo de distribuição de terras improdutivas feito pelo INCRA seja menos burocrático e mais rápido. Seria interessante, também, que a Câmara dos Deputados colocasse em pauta uma discussão a respeito de uma lei que estabeleça um percentual mínimo de produção de itens agrícolas consumidos pela população da região onde a propriedade de um grande monocultor se encontra se encontra. Dessa forma, o custo dos alimentos seria mais baixo e a segurança alimentar seria maior, já que o acesso mais fácil aos insumos alimentícios seria facilitado.