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Enviada em: 19/10/2018

Em sua obra “Vidas Secas”, Graciliano Ramos evidencia, por meio da história de Fabiano, a dura conjuntura vivenciada por inúmeros brasileiros, que enfrentam com dificuldade o processo de busca e garantia de acesso à alimentação. Contudo, seja na literatura, seja na realidade, o Brasil apresenta um enorme contraste: é um país de muito recurso, mas enfrenta dificuldades no que tange à distribuição desse. Dessarte, a temática da fome torna-se passível de debate, visto que é um problema derivado da má distribuição de renda e agravado pelas secas.      Primeiramente, convém ressaltar a modernização como um importante meio de combate à subalimentação. Nesse viés, sob a justificativa de acabar com a fome no mundo, tem início em 1950 a Revolução Verde, que introduz no campo tecnologias como máquinas, agroquímicos e espécies transgênicas, de modo a aumentar a produtividade agrícola. Entretanto, apesar da alta na produção de gêneros alimentícios, o objetivo idealizado não foi alcançado, uma vez que as concentrações fundiária e de renda fazem com que os recursos fiquem restritos a uma pequena parcela da população; prova disso é que, segundo dados do IBGE, no ano de 2017, 1% dos brasileiros monopolizavam cerca de 50% da produção alimentícia, enquanto 3% dos cidadãos viviam em situação de subnutrição.       Ademais, de maneira análoga à concentração de bens, as condições climáticas corroboram o aumento da problemática no país. Sendo assim, apesar de apresentar causas naturais, as secas, sobretudo no semi-árido nordestino, são intensificadas pelas ações antrópicas, como o desmatamento da Zona da Mata, que contribui para a redução do índice pluviométrico regional. Nesse âmbito, a falta de água dificulta o desenvolvimento agrícola e favorece o desemprego, fatores que ocasionam o escasso acesso a recursos alimentícios. Tal quadro torna-se evidente ao analisar pesquisas realizadas pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, as quais demonstram que, em épocas de seca, 52,4% da população nordestina sofre com a desnutrição.       Portanto, a fim de evitar que o Brasil retorne ao mapa da fome, medidas precisam ser adotadas. Logo, é conveniente que o Governo garanta, por meio de programas sociais – como o Bolsa Família – que todos os cidadãos tenham acesso à alimentação. Outrossim, é necessário que o Poder Legislativo, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, elabore leis que garantam que empresas ou civis que degradarem a Zona da Mata sejam responsáveis pelo reflorestamento dessa área e pelo pagamento de multas severas; além disso, o valor arrecadado por essas sanções deve ser investido em pesquisas que visem à redução dos impactos da seca no território nacional. Assim, será alterada a árdua realidade dos diversos “Fabiano” do país.