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Enviada em: 19/10/2018

O brasileiro é conhecido mundialmente pela sua cordialidade para com o estrangeiro. Todavia, quando se trata de seu próprio povo, questiona-se esse atributo: apesar de não estar mais no Mapa Mundial da Fome, o Brasil corre um risco iminente de tê-la, novamente, como um problema crônico e estrutural, haja vista que cerca de 13% dos brasileiros vivem em condição de extrema miséria. Nesse sentido, em concordância com o filósofo alemão Franz Kafka, que acreditava ser a solidariedade o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, percebe-se uma notória passividade e negligência da comunidade nacional perante esse assunto.        De início, um olhar atento para a história do país permite perceber que a fome não é um problema atual: à época da chegada dos portugueses, a concentração fundiária e expropriação de terras indígenas fez com que muitos nativos morressem por inanição, ao passo em que não tinham uma terra agricultável. Mais adiante, tal qual como explorado pela obra "Morte e vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, essa mazela se perpetuou e ainda hoje é uma árdua realidade no país. A notória desigualdade social é a principal responsável pela fome que, em consequência da instabilidade política e da injusta estrutura fundiária, priva milhares de cidadãos de um direito humano fundamental: o acesso aos alimentos.        Assim sendo, além da má administração de recursos políticos já citado, as causas naturais, combinadas à desatenção governamental, contribuem também com essa mazela. Sob esse viés, locais afetados pela intensa seca, a exemplo o Sertão Nordestino, apresentam a fome como principal problema. Logo, é imprescindível que essa temática deixe de ser estatística e número, como se não trouxesse junto dramas e histórias. Além disso, em contraste ao modelo econômico brasileiro, pautado sobretudo no agronegócio, a persistência da fome no país e o risco eminente da volta dele às condições subalimentares demonstra que, por vezes, os valores capitais são mais importantes que os valores humanos.        Portanto, medidas são necessárias para resolver esse impasse. Em primeiro lugar, é de extrema importância que o Ministério da Agricultura, subsidiado por agrônomos e ambientalistas, realize mini-cursos nas áreas mais afetadas por essa realidade, com o objetivo de ensinar práticas de cultivo em propriedades familiares e de forma a valorizar o pequeno produtor rural. Ademais, a atuação de ONGs é imprescindível, pois, ao prestarem trabalho voluntário, angariam fundos e apoio de grandes marcas, as quais poderão contribuir com cestas básicas e até mesmo oportunidades de trabalho. Outrossim, essas organizações constituem-se como um importante meio de mudança e construção da empatia.