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Enviada em: 20/02/2019

Sob a perspectiva antropológica de Claude Levi-Strauss, pai do estruturalismo, é necessário entender o mecanismo funcional de um corpo social para obter uma compreensão profunda dele e de seus conflitos. Nesse sentido, o fantasma da miséria no Brasil, problemática lamentavelmente perceptível no cotidiano — especialmente no passado recente — instiga a sociedade a refletir sobre os caminhos para evitar que o país volte ao mapa da fome. Assim, é lícito afirmar que, o Estado, com sua ineficiência administrativa, além da inércia de parte da sociedade, podem contribuir para o retorno a esse cenário.    Convém ressaltar, antes de tudo, que é ingênuo acreditar que o Governo cumpre seu papel no que se refere à questão. Apesar de existir, de fato, ações que visam garantir o direito à alimentação da parcela mais pobre da população, como o Bolsa Família, que, ao distribuir renda, tenta garantir que os economicamente vulneráveis tenham as principais refeições diárias, apenas medidas pontuais dessa natureza são incapazes de resolver definitivamente a questão, visto que, políticas públicas dessa espécie, ao ir de encontro ao dito ''Estado de Bem Estar Social'' idealizado pelo economista britânico John Keynes, estão ligadas intrinsecamente à realidade fazendária do país. Destarte, constata-se que tais medidas dependem de uma boa situação financeira do lugar onde são aplicadas, o que nem sempre é o caso do Brasil, nação que sofre com constantes crises econômicas e processos inflacionários que, consequentemente, acentuam a pobreza. Prova disso são os alarmantes índices de desemprego em 2018, o grande responsável pela redução drástica do poder de compra do brasileiro.      Outrossim, não há dúvidas de que a conduta inativa de parcela da sociedade civil contribui para o impasse. É nítido que o desperdício de alimentos no país, seja em grandes feiras, seja nas residências, incorporou-se de modo naturalizado à rotina nacional. Sob esse aspecto, John Locke diz: ''O ser humano é uma tela em branco preenchida por influências''. Desse modo, à medida que não é induzida a refletir sobre o fato de que mantimentos que serão descartados podem contribuir para a questão da fome no país, por sua vez, a população torna-se agente na perpetuação do problema.     Faz-se evidente, portanto, que ações são necessárias para alterar essa conjuntura. Para que isso ocorra, o Ministério do Desenvolvimento Social deve realizar um mapeamento das áreas que mais sofrem com níveis de desemprego e, por meio da política de incentivos fiscais para empresas, atrair organizações para tais regiões, com o objetivo de gerar postos de trabalho, movimentar a economia desses lugares e tornar a população menos dependente de programas sociais paliativos. Somado a isso, o MDS deve também estruturar campanhas anti-desperdício na mídia televisiva, além de palestras em escolas, que deverão alertar sobre a existência dos bancos de alimentos em todo o Brasil.