Materiais:
Enviada em: 24/10/2017

Inverossimilhança de Carolina       Carolina Maria de Jesus, autora do livro "Quarto de despejo", versa, em passagens da obra sobre seu constante desejo de tirar a própria vida: mãe, pobre e catadora de lixo, a escritora passava fome e sofria para contornar o cotidiano de mulher marginalizada. Em realidades contemporâneas, o suicídio continua a perpassar o imaginário coletivo brasileiro e desvela uma dualidade contrastante entre seu crescimento no segmento juvenil e a obscuridade imposta à sua discussão combativa.       Em análise primária, faz-se essencial apontar as motivações do status quo observável. Embora componha problemática quase que remota, a prática de autocídio assumiu, na pós-modernidade, nova roupagem. Dessa forma, é possível estabelecer relação causal entre as interações em sociedade e a autoimagem de um indivíduo. Consoante as ideias de Émile Durkheim, sociólogo francês, o suicídio pode derivar de uma identificação intensa com as instituições sociais ou, ao contrário, de um afastamento profundo destas. Adaptando tais noções à popularidade de aparelhos tecnológicos e de ambientes virtuais - novos meios de socialização da juventude brasileira -, destaca-se a elevação da insatisfação individual, do cyberbullying e da depressão, denotando um impasse complexo e multifacetado.       Somando-se à imposição de uma felicidade incessante, mas potencialmente ilusória, pela internet, figura a distância pragmática das mais diversas esferas sociais do país à temática em questão. Posicionando-se como tabu, o suicídio ainda é tomado com olhares de preconceito, determinismo e medo, fatores que, apesar de comuns, inviabilizam a instalação de medidas efetivas para amenizá-lo. De maneira concomitante, a juventude enfrenta um descompasso que miscigena falta de apoio e solidão, advindas de uma realidade que já não pode ser mantida.       Assim sendo, ficam evidenciadas as origens e os desdobramentos mais influentes do suicídio de jovens, entrave nocivo no Brasil. Nesse cenário, a atuação conjunta das escolas e das famílias torna-se crucial para a investigação atenta de possíveis distúrbios entre os adolescentes, através de diálogos periódicos e discretos, que estimulem a busca de ajuda, e da criação de um sistema flexível e coerente de regras de convivência em salas de aula, com o objetivo de combater o bullying e incentivar atitudes de alteridade. O poder público, por meio de órgãos como o Ministério da Educação, pode, a curto prazo, endossar o apoio aos ambientes educacionais, capacitando profissionais de saúde psicológica a atuar em colégios públicos. O combate ao suicídio é um processo longo, mas urgente para deixar realidades como a de Carolina Maria de Jesus na ficção.