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Enviada em: 01/11/2017

Sonho ufanista       Na obra pré-modernista “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que, se superados alguns obstáculos, o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que o major Quaresma desejasse pôr fim ao alarmante número de suicídio entre jovens, situação lamentável que vigora no país. Esse cenário perdura, principalmente, pela restritividade dos padrões de beleza restritivos somada à deficiente conscientização desse público.              Em primeiro lugar, é notório que a atuação negativa dos meios de comunicação está na origem do problema. De acordo com o filósofo alemão Max Horkheimer, a mídia detém o poder de manipular os padrões estéticos e os valores morais de uma população. Nesse sentido, pode-se observar que muitas propagandas impõem uma referência de beleza inatingivel, haja vista que a maioria dos comerciais sofre manipulação digital. Desse modo, adolescentes que não se encaixam nos padrões estéticos são socialmente marginalizados e, não raro, cometem suicídio. Por conseguinte, não é razoável permitir que tamanha persuasão midiatica exista em uma sociedade democrática.             Além disso, o estagnado ideário brasileiro é um entrave à resolução desse fenômeno. Conforme disse o poeta modernista Carlos Drummond de Andrade, a educação visa melhorar a natureza do homem e, por isso, nem sempre é aceita por esse. Nesse contexto, as campanhas de conscientização da população sobre a importância do combate à fatores que motivam o suicídio – bullying, assédio sexual, violência doméstica – não obtem êxito pois esbarram no comportamento reacionário do ser humano que busca manter um mesmo conjunto de crenças. Contudo, uma mudança nesse quadro é possivel com uma transformação na maneira como essa mensagem é transmitida à população.              Denota-se, portanto, que combater o suicídio entre adolescentes constitui um sério desafio para o país. Ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária(CONAR), compete zelar pelo conteúdo veiculado na mídia mediante suspensão de propagandas que possuam intensa manipulação digital, objetivando descontruir a percepção de corpo ideal vigente. Paralelamente, a escola, estimuladora do pensamento crítico, deverá optar pela conscientização sobre a temática por meio de dinâmicas de grupos e jogos educativos, em vez de palestras e aulas impopulares entre os alunos, objetivando tornar a educação mais persuasiva e formar jovens mais atentos e conscientes à questão do suicídio. Assim, com Estado e sociedade civil unindo forças em prol de um país mais justo e humano, o sonho ufanista do major Quaresma estará mais próximo de tornar-se realidade.