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Enviada em: 04/11/2017

Efeito Werther       Para o filósofo francês Albert Camus, "só há um problema filosófico sério: o suicídio". Afirmação essa justificada em um simples fato: ele é contagioso. Assim, da mesma maneira que as mídias e até a própria literatura não auxiliam a frear esse processo, a ausência de políticas públicas e a negligência da família também não. Dessa forma, diante das taxas elevadas de autocídios e da relação da maioria dos casos com patologias psíquicas, vê-se a necessidade de quebrar os tabus existentes e falar a respeito.       O fenômeno funciona como uma epidemia em todos os lugares e épocas, ou seja, esse é preço a ser pago em uma sociedade intolerante a perdedores. Em 1774, ocorreu na Alemanha uma onda de autoextermínios - conhecida como "Efeito Werther" - depois da publicação do livro "Os sofrimentos do Jovem Werther", do escritor Goethe. Em 2017, o polêmico "jogo da baleia azul", que começou na Rússia e alcançou outros países, resultou literalmente no "game-over" da vida de centenas de crianças. No mesmo ano, a série do Netflix "13 Reasons Why" trouxe o assunto à tona, apesar de sofrer fortes críticas ao promover o suicídio quando mostrou o passo a passo da protagonista até o ato final. Logo, todos esses exemplos mostram a necessidade de se falar sobre a questão, mas com o devido cuidado.     Dessarte, o governo e os entes queridos são essenciais para identificação de problemas psicológicos. Isso porque, de acordo com especialistas da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, quase 100% dos suicidas que morrem a cada 40 segundos no mundo e a cada 45 minutos no Brasil, sofrem de depressão ou algum transtorno mental. Por isso, a recusa da família em tratar o assunto para além da "frescura", especialmente com os jovens - visto que são os mais suscetíveis a esses tipos de patologias -, e a negligência do Estado em instituir políticas de valorização a vida eficazes revelam as causas de números tão absurdos. Afinal, como já aconselhou o psiquiatra e escritor Augusto Cury: nunca despreze as pessoas deprimidas, pois a depressão é o último estágio da dor humana.       Portanto, para o suicídio ser combatido, é necessário atuar em diversas frentes. A começar com a atuação do Poder Legislativo no intuito de criar leis que proíbam a exposição e a estimulação de atos de autocídio em todas as mídias (cinema, jogos, redes sociais, entre outros). Ademais, cabe ao governo não poupar esforços e investir nos Centros de Apoio Psicossocial (Caps) de forma que ele englobe todo o território nacional e dê os devidos cuidados psicológicos a todos. Aliado a isso, é dever do MEC lançar campanhas nacionais nas redes de comunicação aberta e promover debates e palestras nas escolas e universidades a respeito do tema. Por fim, apenas um bom relacionamento familiar e conversas sinceras na mesa do jantar podem impedir alguém de se sentir solitário ou não amado.