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Enviada em: 26/02/2018

Sobre Pedras e Cicatrizes        A temática do suicídio possui natureza dilemática, complexa e multidimensional. Nesse sentido, a construção de uma percepção sobre a questão exige permeabilidade do profissional de saúde para garantir um contato empático a fim de garantir um bom trabalho terapêutico. Além disso, o fortalecimento de fatores de proteção que se encontram enfraquecidos ou ausentes é uma valiosa ação dos cuidadores da vida.        Poucos profissionais de saúde são capazes de amparar pacientes mergulhados em crise suicida pela exigência da combinação de conhecimento com intuição, experiência clínica com a serenidade da escuta e prontidão para agir aliado à proteção ao paciente. Dentre os desafios clínicos está o caso dos adolescentes - grupo social propenso ao imediatismo e impulsividade e que não possui maturidade emocional para lidar com estresses agudos. Portanto, para além de algo abstrato e desconfortante é preciso entender a questão como propôs Shakespeare em Hamlet: como dilema humano.        Em 1610 John Donne escreveu Biathanatos, primeiro livro inglês abordando a temática do suicídio. Nele e em muitas obras posteriores como a de Freud e Durkheim o suicídio aparece como uma dimensão social. Essa visão precisa permear a prática do profissional que deve lidar com a questão através de uma conversa clara com o paciente e seus familiares ao mesmo tempo em que busca tecer um ambiente de compreensão e apoio. Assim, esse encontro terapêutico deve ser entendido como linha para a vida.        O suicídio é como uma pedra posta no caminho da vida. Ela bloqueia a capacidade de pensar e faz o indivíduo parar na estrada da existência. Cabe ao médico, ajudar esse ser a enxergar a pedra para ser capaz de carregá-la, ou tomar distância e mapear o terreno em busca de atalhos. Assim, o caminhante poderá dar mais voltas e as razões para a morte transformar-se-ão em cicatrizes da vida.