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Enviada em: 10/07/2019

No filme norte-americano Madagascar, o enredo gira em torno de um grupo de animais que fogem do zoológico metropolitano de Nova Iorque em direção à África. Neste contexto surge Melman, uma girafa hipocondríaca que vive em constante sensação de enfermidade, tendo em sua disposição diversos medicamentos e consultas com os melhores especialistas. Não distante desta realidade, a conjuntura psicopatológica de parcela da sociedade do século XXI, evidencia-se como igualmente afetada por esta condição enfrentada por Melman, fator amplamente potencializado pelo acesso à internet, configurando assim, a "cibercondria". Logo, nota-se que tal fato persiste cristalizado seja na facilidade de diagnósticos e tratamentos proporcionados pela internet, ou na deficiência governamental.       Durante a segunda metade do século XIX, o surto de tuberculose na Europa e América fez com que o corpo social mergulhasse em profunda melancolia e se tornasse hipocondríaca, fomentada pelo vazio existencial proveniente do racionalismo iluminista, fatores que determinaram a produção artística e o modo de vida desta época. Deste modo, percebe-se que a obsessão com a saúde não é situação exclusivamente hodierna, no entanto, cada vez mais presente devido ao fenômeno da World Wide Web. Assim, a democratização das informações promovida pela internet, proporcionou resultados de exames, diagnósticos, tratamentos e prognósticos instantâneos, obliterando a necessidade de deslocamentos e opiniões de especialistas, levando a automedicação e induzindo ao erro e risco.       Outrossim, apesar de garantida através da Constituição Federal brasileira, a saúde persiste em segundo plano devido aos deficitários sistemas de saúde pública. De acordo com Augusto Cury, nada é tão perigoso para aprisionar a inteligência do que aceitar passivamente as informações. Desta maneira, é indubitável que a massificação do conhecimento causada pela internet tem intrínseco poder alienante na medida em que causa a dependência das opiniões preestabelecidas por parte dos hipocondríacos, em vista do vácuo de assistência do Estado, confluindo em um "neo-escravismo". Deste modo, geram-se conclusões precipitadas que conduzem às atitudes inadequadas.       Partindo dos fatos supracitados, conclui-se que a problemática se perpetua enraizada em deficiências públicas e no poder alienante da internet, logo, urgem medidas para saná-la. É imperativo que o Governo Federal através do Poder Legislativo, em associação ao Ministério da Saúde, desenvolva amplas campanhas de conscientização acerca dos riscos do autodiagnóstico em ambiente virtual, que ocorram por meio de instituições de ensino e mídia, contando com palestras e opiniões de profissionais da saúde, ademais, deve ser proibida a compra de medicamentos agressivos sem receita, de modo a evitar a automedicação imprudente. Assim, a harmonia será alcançada.