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Enviada em: 02/07/2017

Com a instalação da família real no Brasil, em 1808, o cenário urbano do país modificou-se a fim de adaptar-se ao contingente lusitano que veio com a corte. Dando continuidade ao não planejamento urbano a longo prazo, secundarizado desde a época da colonização, no século XVI, com a ocupação litorânea desorganizada, os problemas foram se agravando. Aluísio de Azevedo, em seu romance naturalista O Cortiço, denunciou as péssimas condições de vida das moradias populares cariocas séculos mais tarde, deixando claro que as consequências da ocupação urbana desordenada geram reflexos negativos ao longo do tempo, refletindo social e ambientalmente, inclusive, nos dias atuais.      Nesse contexto,  como produto da falta de preparo das cidades, surge o fenômeno da favelização. O crescimento urbano espacial ocorreu de formas distintas no mundo, caracterizando países ricos e países pobres. Estes, em virtude da industrialização tardia, não planejaram o crescimento das cidades, alojando na periferia as pessoas que chegavam, uma vez que o centro já estava dominado pela especulação imobiliária, devido a concentração de serviços no local. Por conta disso, houve uma marginalização de uma parcela da sociedade, além do surgimento de  congestionamentos, fruto da necessidade do trabalhador de se deslocar diariamente até o seu local de trabalho.       Além disso, impactos ambientais, gerados pela modificação irracional do espaço, influenciam decisivamente na vida da população, causando danos, por vezes, irreparáveis. O desajuste entre o número de pessoas e a disponibilidade de moradias leva a construção de casas irregulares que, por meio da impermeabilização do solo, com a retirada de mata nativa de encostas e descarte irregular do lixo, provocam deslizamentos e enchentes. Levantamento feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), apontou que, só na Grande São Paulo, nos últimos 20 anos, 202 pessoas morreram em deslizamentos de terra, alertando para as graves consequências da falta de um simples planejamento.       Fica claro, portanto, a necessidade da adoção de medidas que visam inverter essa lógica urbana caótica. Para isso, o Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades, deve humanizar os espaços que estão à margem dos grandes centros, através da construção de moradias mais seguras, a fim de realocar famílias que vivem em locais de risco. Ademais, a realização de obras de contenção de encostas, com o objetivo de evitar deslizamentos, diminuirá consideravelmente o número de mortes por esse desastre. Já o Ministério do Meio Ambiente, visando diminuir a quantidade de enchentes, deve ampliar o alcance do saneamento básico, além de incentivar a coleta seletiva, por meio da promoção de palestras e debates nas comunidades, com o intuito de conscientizar e ouvir a demanda dos moradores. Dessa forma, priorizando a organização, construir-se-á espaços urbanos mais justos.