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Enviada em: 15/07/2019

Segundo a Organização não Governamental - ONG - Safernet, oito a cada dez crianças brasileiras têm acesso à internet no país. É nesse contexto de grande inserção infantil na rede digital que se tem estimulado o controle parental quanto ao uso dessa tecnologia, o qual, embora reduza a exposição das crianças aos perigos virtuais, como a pedofilia, também pode converter-se em invasão da privacidade dos infantes. Tal problemática parece reflexo da falta de diálogo entre pais e filhos, bem como do comportamento não exemplar das famílias quanto ao acesso descometido das novas mídias, o que dificulta a supervisão pueril, necessitando ser combatido.       Em primeira análise, é preciso ponderar a importância da desorientação das crianças na sua não aceitação das ferramentas de controle parental disponíveis. De acordo com Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, a escassez de diálogo entre os indivíduos nas sociedades contemporâneas, fenômeno da Modernidade Líquida, leva ao afastamento e a intolerância social. Nesse sentido a imposição dos pais para limitar o acesso a alguns conteúdos digitais pelas crianças por meio aplicativos, a exemplo do "Family Link" da empresa Google, sem, conduto, uma orientação prévia sobre os motivos de tal conduta com seus filhos - característica moderna - dificulta aceitação infantil dessas supervisões. Como consequência disso, os infantes passam a visualizar essa prática como uma invasão de sua privacidade, buscando burlá-las, o que os tornam mais suscetíveis aos perigos da rede, como o seu aliciamento por grupos pornográficos.        Outrossim, o uso excessivo das mídias digitais pelos membros das famílias, conduta não exemplar, potencializa esse quadro. Para Durkheim, sociólogo francês, os fatos sociais condicionam de forma coercitiva a conduta dos indivíduos. Seguindo essa linha de pensamento, os jovens, ao observarem a utilização massiva da internet pelos seus genitores, acabam por reproduzir esse comportamento nocivo, o que estimula sua inserção nas redes sociais - Segundo o Comitê Gestor da Internet, a maioria (79%) das crianças têm perfis sociais - e os tornam mais vulneráveis.       Dessa forma, urge que o Estado brasileiro e a sociedade tomem medidas que estimulem o controle parental adequado, não invasivo, sobre o uso da internet pelas crianças. Destarte, o Ministério da Educação e ONGs devem incentivar o diálogo familiar sobre os perigos da rede virtual para os infantes e a importância de sua supervisão por meio de campanhas publicitárias e rodas de conversas nas escolas, com psicólogos, a fim de solidificar as relações sociais e facilitar a aceitação infantil desse controle. Por fim, as escolas devem, mediante palestras e oficinas com os pais, conscientizar as famílias quanto a necessidade da conduta exemplar para a proteção infantil.