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Enviada em: 28/07/2019

Em um dos episódios da série televisiva "Black Mirror", são retratados os impactos nocivos da superproteção parental e da constante regulação das atividades sociais no comportamento das crianças. De maneira similar à realidade, nota-se que o controle parental excessivo sobre o uso de novas tecnologias também configura um cenário preocupante na contemporaneidade, pois, assim como ocorreu na obra cinematográfica, tal atitude pode retardar o desenvolvimento social do público infantil. Sob esse aspecto, faz-se fundamental analisar a problemática, seja pelo desconhecimento de produtos tecnológicos, seja pela ausência de diálogo no núcleo parental.    Inicialmente, é válido reconhecer a desinformação acerca de novas tecnologias como uma das principais origens da problemática. Acerca disso, deve-se observar que a partir da Terceira Revolução Industrial, os produtos eletrônicos de comunicação e informação foram desenvolvidos com intensa rapidez e passaram a estar presente em diversos setores da sociedade. Entretanto, os indivíduos do núcleo parental que, por razões econômicas, não acompanharam esse progresso tecnológico, tendem a não compreender o funcionamento dos novos recursos e a segregar essas formas de comunicação dos seus filhos, o que transforma o ambiente familiar em proibitivo e coercitivo. Dessa forma, o convívio parental torna-se instável e a invasão à privacidade passa a ocorrer constantemente.    Além disso, a falta de conversação na instituição familiar também pode ser apontada  no estudo da problemática. Segundo o sociólogo Émile Durkheim, a família tem com principal responsabilidade iniciar o processo de socialização e internalizar nos indivíduos regras e valores que orientem a sua conduta. Nesse contexto, a falta de diálogo entre pais e filhos para se estabelecer limites na utilização de ferramentas virtuais confronta o pensamento de Durkheim, uma vez que esse cenário dificulta a passagem de normas relacionadas ao convívio social e até à identificação de situações nocivas às crianças como, por exemplo, a pedofilia no meio cibernético. Desse modo, os pais atuam de forma invasiva e afastam os filhos do âmbito virtual sem conscientizar o público juvenil sobre a situação.    Fica evidente, portanto, que são necessárias medidas para amenizar o controle parental quanto ao uso de novas tecnologias. Logo, é mister que o Poder Público e os meios de comunicação promovam a conscientização do núcleo parental acerca dos produtos de comunicação, mediante campanhas publicitárias que objetivem a divulgação de informações sobre o funcionamento e a utilização dessas ferramentas. Outrossim, o Estado, como instituição garantidora do bem-estar social, também deve atuar para garantir o diálogo entre pais e filhos, por meio da adoção de palestras que ofertem auxílio na resolução de problemas e possibilitem o cumprimento do papel familiar observado por Durkheim.