Em "20.000 Léguas Submarinas", Júlio Verne, há mais de cem anos, vislumbrara uma sociedade moderna imersa na evolução no otimismo. Contemporaneamente, no Brasil, essa ideia foi em parte consubstanciada. Entretanto, o pensamento retrógrado de oposição às cotas nas universidades vai de encontro à evolução proposta pelo autor. Desse modo, cabe debater acerca da necessidade social desse recurso e dos prejuízos do discurso meritocrático para a sociedade. Diante desse cenário, o escritor alemão Jürgen Habermas, em sua obra "A Inclusão do Outro", afirma que incluir e amparar a todos os cidadãos deve ser compreendido como uma necessidade ética, uma prerrogativa para o bom convívio social. Indubitavelmente, o estabelecimento das cotas nas universidades vai ao encontro da premissa de Habermas, tendo em vista que atua como um mecanismo de inclusão. Tal medida de reparação histórica e social é fundamental para mitigar a desigualdade econômica e de oportunidades, o que, a longo prazo, é capaz de criar condições melhores para as minorias do país. Dessa maneira, é importante que seja assegurado esse direito. Outrossim, o discurso meritocrático de parte da população - que é contra as cotas nas universidades - está diretamente relacionado à falta de empatia e ao egoísmo. Isso porque, segundo o filósofo Arthur Schopenhauer, o ser humano tende a estabelecer os limites do próprio campo de visão como os limites do mundo. Nessa perspectiva, muitos indivíduos, alienados em sua condição financeira favorável e imersos em privilégios, tomam sua realidade como uma verdade universal, ignorando as diferentes necessidades dos brasileiros e fortalecendo a ideia de que o mérito é o único fator que leva ao sucesso. Esse pensamento retrógrado é extremamente nocivo ao país, já que visa a manutenção do status quo de desigualdade. Dessa forma, é imprescindível uma mudança nessa conjuntura. Urge, portanto, que medidas sejam implementados para garantir a permanência das cotas nas universidades. Nesse âmbito, o Poder Executivo Federal, em conjunto ao Ministério da Educação, deve elaborar um projeto que explique a necessidade de incluir a todos os indivíduos, ressaltando a importância das cotas para essa finalidade. Esse programa deve ser exibido na televisão, em horário nobre, em mídias de todo país, para que assim o alcance seja maior e mais pessoas possam ser conscientizadas, tornando mais próxima a realidade proposta por Júlio Verne.