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Enviada em: 26/02/2019

Dado que o número de vagas em universidades é finito, cotas operam mais ou menos como subsídios cruzados, que funcionam melhor quando é uma minoria que recebe o benefício custeado pela maioria do que na situação inversa. No primeiro caso, a conta não dói muito no bolso de ninguém e a coisa é bem metabolizada pela sociedade. No segundo, os grupos que se veem como pagando desproporcionalmente mais tendem a sentir-se injustiçados, o que costuma gerar ressentimentos e abre espaço para encrencas futuras. Nos EUA, estudantes asiáticos estão processando a Universidade Harvard, acusando-a de discriminá-los para favorecer membros de outras etnias. Na Índia, que tem um sistema de cotas e subcotas muito mais antigo, amplo e complexo do que o brasileiro, já houve protestos violentos, com mortes, de grupos que exigiam ser incluídos entre os beneficiários. Por essas e outras, conclui-se que as cotas representam um retrocesso. O ensino, é claro, deveria ser o grande nivelador da sociedade, o espaço no qual todos, independentemente de suas origens, recebem a instrução necessária para disputar com chances o ingresso na carreira que desejam, mas isso funciona muito melhor na teoria do que na prática. Em praticamente todos os países, filhos de famílias de maior nível socioeconômico apresentam melhor desempenho acadêmico. Eliminar o problema soa utópico. A esperança é que melhores e mais inclusivos sistemas de educação básica tornem essa correlação mais fraca.