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Enviada em: 26/03/2018

Jogos Olímpicos e Paraolímpicos são competições internacionais que reúnem os melhores atletas de diversas modalidades. Esses eventos diferem entre si pelo segundo envolver pessoas com algum tipo de deficiência, enquanto o primeiro não. Seria estranho imaginar todos juntos competindo, pois isso feriria claramente o princípio da equidade. Analogamente, assim funciona o sistema de cotas nas universidades públicas brasileiras, que procura compensar, no competitivo acesso à educação superior, as desigualdades sociais e a dívida histórica que o país tem com a população negra.        Primeiramente, é importante dizer que a educação brasileira é historicamente elitista. Não é de hoje que o conhecimento é acessado de forma ampla por aqueles que podem pagar. O ensino público, por outro lado, é marcado pela qualidade inferior e pela evasão. Salvo as escolas federalizadas, instituições municipais e estaduais são majoritariamente precarizadas e não têm condições de competir com estabelecimentos particulares e cursos preparatórios que se especializam em conhecer profundamente as provas de seleção. Não foi à toa que o ano de 2016 foi marcado por movimentos de ocupação de escolas estaduais em que os estudantes, cientes de sua desvantagem, tinham como pauta esta questão.        Muitas dessas ocupações, compreendidas por alunos negros e periféricos, organizaram também debates sobre o racismo, estrutural no país, e que, junto à pobreza, consiste também em um outro componente obstáculo à entrada e permanência no ensino superior gratuito. Visto que cerca de somente 13% dos universitários é negro nas faculdades públicas, é perceptível que, mesmo com as cotas, o argumento de que a reserva tira vagas da ampla concorrência é falacioso, já que o acesso dessas pessoas a espaços acadêmicos ainda é muito limitado. Mesmo quando alcançam as universidades, esses alunos enfrentam as dificuldades da permanência, pois os custos para se manter não são baixos. Além disso, a discriminação velada que sofrem diariamente tornam a sua estadia um desafio durante o período do curso. Assim, garantir a sua entrada no processo de formação profissional minimiza o impacto do processo difícil que essa população é obrigada a enfrentar.          Portanto, fica claro que as cotas nas universidades consistem numa relevante ação de inclusão na sociedade brasileira, ainda profundamente desigual. Para amenizar este complexo quadro, é importante que o governo federal, junto aos estados e municipalidades, trabalhem comprometidos com a manutenção da estrutura das escolas, e que promovam programas com bolsas de estudo para a reciclagem de profissionais de educação. O aumento de bolsas de permanência e da oferta de vagas para cotistas, pela federação, também deve ser considerado, pois ainda estamos longe do ideal.