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Enviada em: 07/05/2018

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos grupos sociais desfavorecidos, os quais buscam ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito de acesso ao ensino público superior. Nesse contexto, não há dúvidas de que a inserção dos cotistas nas universidades é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também ao preconceito da sociedade.    Em primeira instância, é preciso observar que, a questão constitucional e a sua aplicação estão entre as causas do problema. Tal fato se reflete nos escassos investimentos governamentais em suporte nas escolas públicas e em formação acadêmica dos licenciados, medidas que diminuiriam a discrepância no desnível da educação pública e particular. Destarte, consoante Aristóteles no livro Ética a Nicômaco, a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não apenas de um ensino público de qualidade, como também o devido reconhecimento dos educadores não está presente em todo o território nacional.           Outrossim, o preconceito da sociedade ainda é um grande impasse à inclusão de alunos cotistas nas universidades públicas. Tristemente, a existência da discriminação contra alunos amparados por ações afirmativas é reflexo da valorização dos padrões criados pela consciência coletiva. Contudo, segundo o pensador e ativista francês, Michel Foucault, é preciso mostrar às pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar pensamentos errôneos construídos em outros momentos históricos. Assim, uma mudança nos valores da sociedade é fundamental para transpor as barreiras da introdução de estudantes cotistas no meio acadêmico.    Fica evidente, portanto, que os empecilhos impostos a inserção de alunos cotistas nas universidades federais é fruto de políticas de inclusão mal elaboradas e são intensificadas nos hábitos coletivos. A fim de que essa situação seja revertida, o Governo, por meio do Ministério da Educação (MEC), deve investir no aprimoramento das escolas públicas, o que poderia ser feito por meio da promoção de estrutura adequada -biblioteca, laboratório de informática-, além de promover a valorização dos profissionais da educação, a fim de fornecer uma educação pública de excelência, para que com isso a Lei de Cotas represente apenas uma medida paliativa. Como já dito pelo pedagogo Paulo Freire, a educação transforma as pessoas, e essas mudam o mundo. Logo, o (MEC), deve instituir, nas escolas, palestras incluindo a participação discente e familiar, mostrando a necessidade da desconstrução, por meio de uma educação crítica, dos estereótipos que prejudicam a harmonia social. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.