Materiais:
Enviada em: 27/10/2017

"Jeca Tatu não é assim, ele está assim". Nesse fragmento de sua obra modernista "Urupês", Monteiro Lobato ilustra com maestria a situação do homem do campo naquele período - vítima das circunstâncias de pobreza e exposto à péssimas condições de higiene e saneamento. Não somente aos caboclos, essa realidade se expande à população urbana brasileira, que em meio a filas enormes no SUS padece com a ineficiência da saúde pública no país. Nesse sentido, reverter tal quadro é substancial.       Esse cenário descende, sobretudo, da falha do SUS em assistir aos enfermos. Isso porque, a ampliação do contingente populacional não foi acompanhado de um planejamento sobre o atendimento a saúde, resultando em um sistema insuficiente, com déficit de medicamentos, ausência de profissionais, leitos superlotados e instalações precárias. Estas, são representadas no hospital João XXIII, em Belo Horizonte, onde o teto quebrado trás vazamentos que caem diretamente nos pacientes e as baratas são servidas junto às comidas. Ora, tal ineficiência fere não somente os enfermos, mas os direitos básicos da Constituição, no artigo 2º.       Corrobora para essa calamidade, a deturpação que envolve esse meio. Ao longo da História, o interesse político nunca foi ligado com a atenção à esse departamento. Esse desdém começou cedo, em 1951 o primeiro desvio de verbas para a industrialização ocorreu na CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial). De forma análoga, os 38 bilhões gastos em luxuosas arenas olímpicas e infraestrutura para as Olimpíadas de 2016 poderiam ter sido destinados em reformas hospitalares. De fato, no Brasil há "muita saúva e pouca saúde", como afirmara Mário de Andrade.        Depreende-se, portanto, a situação calamitosa da saúde pública no país. Para reverter esse quadro, recai na postura do Poder Legislativo, tornar crime hediondo o desvio de verbas no SUS, visando a aplicação correta e administrada do dinheiro. Outra atuação desse órgão destaca-se na criação de uma lei para resinificação desse sistema, a fim de fortalece-lo com investimentos estruturais e profissionais. Outrossim, ao Ministério da Saúde cabe a ampliação do número de funcionários nos PFS para garantir uma medicina preventiva para diminuir a lotação nos hospitais de grandes estados. Além disso, cabe ao Governo Federal expandir as unidades primárias de atendimento, sobretudo nos municípios, com fito de abranger um maior contingente populacional. Quem sabe, dessa forma, será possível contrariar Cazuza e mostrar que as ilusões não estão perdidas, ainda existirá esperança de melhorias.