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Enviada em: 09/08/2018

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos cidadãos brasileiros, que buscam ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito à habitação. Nesse contexto, não há dúvidas de que a a promoção de moradia de qualidade para todos é um desafio no Brasil  que ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também à postura indolente da sociedade.    A Constituição Cidadã de 1988 afirma que para garantir os Direitos Humanos e a plena dignidade pessoal, é necessário prover o acesso a habitação de qualidade, todavia, o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que em razão do crescimento desordenado das cidades com o consequente processo de "periferização", há a ocupação de áreas de risco, seja de erosão ou desabamento, por famílias presentes no déficit habitacional que, em troca de uma moradia, abrem mão de sua segurança. Em contrapartida, a oferta de condições de moradia adequada- a habitação irregular atinge 5,8 milhões de brasileiros, de acordo com o IBGE-  não está presente em todo o território nacional, fazendo os direitos permanecerem no papel.    Outrossim,  o conceito de Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, explica a queda das atitudes éticas pela fluidez dos valores, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, o sujeito, ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por perpetuar à supervalorização, engendrada pelos empresários defensores da finalidade apenas lucrativa das moradias, do preço dos terrenos urbanos localizados em porções centrais da cidade. Sob essa ótica, observa-se a implementação do processo denominado de gentrificação, no qual há a preocupação exclusiva com o embelezamento e a seleção preconceituosa do perfil social dos habitantes, isolando os mais pauperizados em zonas periféricas, marcadas pela defasagem da atuação estatal. Em vista disso, os desafios para consumar o déficit habitacional  no Brasil estão presentes na estruturação desigual e opressora da coletividade, bem como em seu viés individualista.   Sendo assim,constata-se que a supervalorização dos preços imobiliários, acrescida da insipiente gestão dos órgãos governamentais, são elementos preponderantes que podem acarretar a desasagem estrutural e logística das residências brasileiras.Faz-se necessário, portanto, que as empresas privadas de construção civil,em parceria com imobiliárias do setor público, viabilizem a edificação e a venda de conjuntos habitacionais a preços mais baratos voltados às populações com baixo poder aquisitivo. É fundamental,ainda, que as instâncias executivas do poder aumentem o aporte de capital destinado à oferta de suportes e serviços básicos públicos para a manutenção da dignidade habitacional e cidadã.