Materiais:
Enviada em: 11/06/2018

Na obra pós-modernista Os Sertões, Euclides da Cunha relata a Guerra de Canudos, do século XIX, e o cruel confronto entre o Exército Brasileiro e os integrantes marginalizados de um movimento social. No limiar do século XXI, tal confronto, ainda que por diferentes razões, dá-se diariamente nas cidades brasileiras e advém do mesmo problema: a ineficiência do sistema de segurança. É necessário, dessa forma, que se discuta os motivos que levam tal impasse a perdurar e suas consequências para a sociedade atingida.       Em primeiro plano, é inegável que o sistema de segurança do Brasil é acometido por uma crise ins-titucional. O filme fictício Tropa de Elite exemplifica essa realidade, mostrando como, na prática, as ações de segurança do país não surtem efeito duradouro, uma vez que deveriam ser utilizadas para a remediação da violência, do tráfico e ilegalidades, mas, na maioria das vezes, são tidas como medidas de prevenção. Além disso, mostra como a corrupção se infiltrou também nos órgãos de defesa, fazendo da segurança um produto que pode ser comprado também a favor da criminalidade.  Assim, a popula-ção, principalmente a mais carente, sofre, não apenas com a falta de educação, saúde e infraestrutura pública de qualidade - a verdadeira prevenção - mas com o medo que interfere no cotidiano de milhares de indivíduos.       Em segundo plano, tem-se as consequências do problema, como o aumento da violência e da mar-ginalidade. Em 2017, no Brasil, o número de homicídios chegou a quase 60.000, segundo o Atlas da Vi-olência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Ademais, o aumento do tráfico de ar-mas e drogas e o fortalecimento do crime organizado, que toma as grandes cidades do país, como o Rio de Janeiro, estão diretamente relacionados à ineficiência desse sistema de segurança. Para o es-critor americano Isaac Asimov, a violência é o último refúgio do incompetente. Nesse sentido, forma-se um ciclo vicioso frente a essas consequências pelo mal planejamento de medidas que busquem atenuá-las, já que, muitas vezes, tenta-se utilizar da própria violência para findar tais impasses.       Diante dos argumentos supracitados, é preciso que o Ministério de Segurança Pública, juntamente com as Secretarias Municipais de Segurança, construa planos de combate à corrupção infiltrada nos órgãos de proteção, por meio de maior fiscalização dos funcionários e na exigência da criação de uma legislação punitiva mais austera àqueles que se aliam ao crime organizado. Além disso, cabe ao Ministério da Fazenda destinar maiores investimentos nas áreas de educação, saúde e infraestrutura a fim de garantir, verdadeiramente, a diminuição da criminalidade a longo prazo. Apenas assim as cidades brasileiras deixarão de ser cenários de guerra, como um dia foi Canudos.