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Enviada em: 06/06/2018

"O horror! O horror!" As palavras que o enlouquecido Kurtz balbucia antes de morrer, no romance "O coração das trevas" (1899), tornaram-se uma das citações literárias mais manjadas do país à medida que o século XX e as ondas de violência avançavam. Nesse sentido, os desafios da segurança pública no Brasil, haja vista a ineficaz atuação Estatal, bem como as desigualdades sociais vigentes, sugerem o impensável: que o desfile de horrores e insegurança do século passado podem ter sido só um aperitivo. Nesse viés, convém analisar as vertentes que englobam tal problemática.             Em primeiro plano, é indubitável que o direcionamento do Estado somente em políticas de ações coercitivas esteja entre as causas do problema. Nesse âmbito, o sistema de combate brasileiro com foco na punição e criminalização demonstra um afastamento de ações que deveriam ter a mesma importância, a exemplo, políticas de reestruturação dos presídios, com enfoque na ressocialização do detento. Dessa maneira, após ficarem reclusos e responderem por seus atos, esses indivíduos por não receberem apoio acabam, muitas vezes, voltando a realizar as mesmas atividades criminosas que os levaram a cumprir pena. Assim, deduz-se que tal ordem cíclica de adesão e readesão ao crime provocam abalos no sistema de segurança pública do país.                  Outrossim, vale ressaltar também que a acentuada desigualdade social  tem sido campo fértil para a introdução de indivíduos ao mundo do crime e, consequentemente, intensifica a fragilidade da segurança pública. De fato, o abismo social existente, principalmente, entre as zonas periféricas, com falta de investimentos em escolas, políticas habitacionais e saneamento básico, bem como a segregação espacial, oferecem oportunidades distintas a esses indivíduos, comparando-os com outras regiões, o que, desse modo, instiga-os a buscarem outras alternativas para sobreviver (o tráfico é uma delas). À vista de tal preceito, torna-se evidente que a segregação socioespacial corrobora para o aumento da criminalidade e, assim, intensifica os desafios da segurança nacional.          Para que se amenize esse cenário problemático, portanto, faz-se necessária a atuação governamental, em parceria com ONG´s, na ressocialização do ex-preso, com um correto acompanhamento pós-reclusão, auxiliando os indivíduos na busca por empregos e inserindo-os em projetos sociais nas próprias periferias, para que os mesmos tendo uma vida mais estável, não voltem a praticar delitos. É imprescindível, ainda, a atuação do Ministério da Educação com o investimento na criação de novas escolas, assim como na melhoria do ensino público nas áreas marginalizadas, a fim de diminuir as desigualdades existentes que refletem na desestabilização do sistema de segurança pública do país, e para que os horrores vividos pelo tresloucado Kurtz fiquem só em citações literárias.