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Enviada em: 26/10/2018

Paradoxalmente, o Brasil detém uma política de vacinação gratuita garantida por lei - a qual serve de modelo para outros países - e convive com o atual cenário de retorno de doenças que haviam sido erradicadas no final do século XX. Diante dessa problemática, destaca-se como preponderante a negligência da população em renovar suas vacinações, bem como a falta de controle de setores do governo em áreas de fronteira, paralelamente à má gestão dos recursos de municípios destinados à vacinação.    Precipuamente, convém assinalar que o efeito da implementação do Programa Nacional de Imunização na década de 1970 - o qual deixou as taxas de cobertura acima de 95% em todo país - provocou na população uma errônea sensação de ausência de ameaças, seguida de atitudes negligentes quanto à prática da vacinação. Por conseguinte, tal prática comportamental coletiva gerou um contingente de pessoas suscetíveis a propagar doenças como sarampo e poliomelite. Trata-se, assim, de uma população que é proativa somente em situações de surtos de doenças. Dessarte, ratifica-se a tese da "Heurística do Medo" do filósofo Hans Jonas, a qual asserta sobre o tom antecipador do qual tem a sensação de temor nas pessoas, de modo a despertá-las para o senso de responsabilidade e de ação.             Por outra análise, cabe pontuar o despreparo em articular os recursos dos municípios, agravado e escancarado sobretudo em contexto de crises internas ou extrarregionais. Congruente a isso, o descuido brasileiro veio à tona com a crise humanitária na Venezuela, da qual vem 80% dos casos de sarampo na América do Sul. Assim, o não controle das áreas de fronteira, concomitante ao desamparo sanitário aos refugiados que habitavam a região fronteiriça, somado ao desabastecimento de vacinas essenciais para a própria população foram fatores preponderantes para a instalação de epidemias.     Em suma, com o fito de aproximar mais a realidade da saúde pública brasileira com o que está vigente na lei, é imperativo que se desenvolva novas formas de cooptar a população para a necessidade de vacinação. Portanto, urge que o Secretarias de Saúde Estaduais, por meio da capacitação de técnicos da saúde, promova amplos debates e palestras em empresas, de modo a não ter o horário de trabalho como obstáculo para trabalhadores e sim como aliado no despertar de responsabilidades. Ademais, urge que o Ministério do Planejamento esteja preparado para emitir verbas para os governos em situações de crises extrarregionais, a fim de se conter a propagação de epidemias pelo país.