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Enviada em: 26/08/2019

O livro Frankenstein retrata a história de um cientista que consegue reviver a matéria morta, criando um novo tipo de ser. Contudo, apesar da façanha, a “criatura”, como é chamada, passa por diversos sofrimentos decorrentes de sua aprência disforme, o que ocasiona várias tragédias. A narrativa foi vista por intérpretes como um alerta de que o homem não deveria manejar o que está fora do seu alcance. Será mesmo? Muitos avanços foram produzidos ao se transpor o que era considerado como limite. Assim, faz-se necessária a análise dos desafios da conciliação entre ética e tecnologia, para que se possa, sem impedir o progresso, extrair dele apenas o que há de melhor.     Em primeiro lugar, vale destacar que a falta de discussão democrática acerca dos avanços da biotecnologia prejudica a instrumentalização ética dessa ciência. Para ilustrar, um episódio da série “Black Mirror” mostra uma mulher que, ao perder o marido, compra um serviço no qual todas as características físicas e psicológicas do falecido são recriadas no corpo de um robô. Como consequência, ela não consegue superar o luto e sua filha reconhece no “andróide” um pai. Dessarte, pode-se perceber que, quando não há o devido debate sobre seus efeitos, a técnica, mesmo com a intenção de melhorar o mundo, pode piorá-lo.    Ademais, é imperioso que interesses políticos e econômicos momentâneos não determinem processos que gerem resultados maiores que seu poder em abrangência e duração. O exemplo dos nazistas, que mataram milhares na tentativa de criar o “novo homem”, e das companhias europeias, as quais, segundo reportagem do El País, competem pelo pioneirismo na clonagem, só provam que tanto Estados quanto empresas não devem arbitrar livremente sobre o destino da humanidade. Nesse sentido, a população, seguindo a ideia de Habermas, deve, numa prática deliberativa racional, ser capaz de conduzir seu próprio futuro.    Portanto, urgem ações que auxiliem o uso ético da biotecnologia. Desse modo, cabe à Organização das Nações Unidas estimular em seus países membros, mediante sanções econômicas para àqueles que não aderirem à iniciativa, a criação de leis internas que garantam a paricipação popular no desenvolvimentos de novas tecnologias. Essas leis estipularão que, para que uma técnica que produza diversos efeitos sociais, como o uso de células-tronco, seja aprovada em uma nação, se realize obrigatoriamente plebiscitos e debates públicos. Somente assim, a trágica história de Frankenstein poderá ser evitada