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Enviada em: 21/08/2019

No Brasil, em decorrência da falta de criticidade de muitos cidadãos, tornou-se corriqueira a compreensão de que a evasão universitária não afeta a dinâmica atual. No entanto, embora essa perspectiva permaneça no senso comum, naturalizando esse modo de pensar, é preciso notar o quanto esse ponto de vista é ingênuo ao possibilitar que o indivíduo se isente da culpa e aponte culpados.   A falta de identificação com o curso é uma de suas origens. A conciliação de estudos com trabalho pode dificultar a situação do discente. A crise econômica que se instalou no país tem grande influência nessa questão. Esses entendimentos sobre saída de instituições superiores, mesmo que simplistas, tendem a ressaltar fatores como os dados divulgados pelo INEP, que indicam que mais de 30% dos estudantes desistem de cursos de baixa demanda. Em geral, quando a sociedade não se predispõe a assumir posturas críticas e sensatas, toda a atualização de valores fica propensa a exaltar padrões de conduta nocivos e desvirtuados que banalizam tal problema. Como se não bastasse, há de se atentar, também, à forma perniciosa como diversos segmentos sociais se comportam diante desse assunto, ao subestimar as milhares de pessoas que perdem a vaga em prol daquelas de desistem, além da diminuição da quantidade de profissionais aptos e qualificados no mercado de trabalho.   Por conta disso, no debate acerca do abandono de cursos em faculdades, é preciso enfatizar a urgência do investimento em um maior senso de corresponsabilidade coletiva. Dessarte, em consonância com as ideias da Teoria da Coesão Social, de Durkheim, e do poeta John Donne, não se deve perguntar por quem dobram os sinos, deve-se notar que dobram por todos. Desse modo, é possível evitar a proliferação de posturas meramente acusatórias que, além de desprezarem a atuação pouco eficaz ou inexistente de agentes públicos, também agenciam o aborto de sonhos e o assassinato de esperanças, ao passo que, segundo o MEC, nem bolsas estudantis em universidades privadas são o suficiente para manter alguém estudando. Sob essa égide, mais do que se eximir da culpa para apontar culpados, os brasileiros devem atentar-se ao seu poder de ingerência e resolução.   Sem dúvidas, quando restrita a fatores inoportunos, qualquer iniciativa contra a evasão universitária está fadada ao insucesso. Portanto, faz-se necessário que o Estado, por meio do Ministério da Educação, invista no aumento de vagas gratuitas, seja ao aumentar a disponibilidade em faculdades públicas ou ao estimular a expansão de bolsas em universidades privadas, além de garantir auxílio financeiro aos estudantes mais carentes, o que dará condições a esses para que continuem a estudar afim de ascender socialmente. Afinal, parafraseando o filósofo grego Heráclito, a mudança deve ser o princípio fundamental de tudo.