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Enviada em: 23/02/2019

"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho". O poema do escritor modernista brasileiro Carlos Drummond de Andrade sintetiza como tem sido difícil a história da população indígena no território brasileiro. É indubitável que esse grupo fica à margem da sociedade em diversos âmbitos, e um dos que se deve abordar é a educação dos povos indígenas. É notório que os desafios consistem no despreparo das instituições de ensino e na ineficiente formação dos profissionais, de maneira que corroboram para a transgressão dos seus direitos constitucionais.     É primordial ressaltar que a supressão da cultura, da língua e dos costumes indígenas é um fato intrínseco a formação desse país, desde o período colonial, com a catequização e escravidão, até a atualidade existe uma obliteração persistente dessa parcela da população. No que diz respeito a educação, sem dúvida, os indígenas ainda são muito desassistidos, já que as escolas urbanas e as existentes nas aldeias não possuem aparato estrutural para receber e educar esses alunos. A dificuldade de assegurar uma educação escolar específica,intercultural,diferenciada e bilíngue, garantida pela Constituição Cidadã de 1988, ocorre devido à inexistência de material pedagógico que respeite a cultura, afirme as identidades e as línguas dos mais de 300 povos existentes no Brasil. Paralelo a isso, a formação dos profissionais da educação não aborda a realidade de ensinar os estudantes indígenas, por isso há um grau de dificuldade ainda maior de atender as especificidades dessa população, de modo que a integração delas à comunhão nacional se configure como uma utopia.     É pertinente levar em consideração, ainda,o desafio dessa população de ingressar e se manter no ensino superior, uma vez que- de acordo com o site Portal do Estado- até 2008 não havia registro de indígenas nas graduações das universidades. Em decorrência disso, a formação de profissionais próprios das comunidades autóctones para o ensino, de modo a atender as necessidades delas, atrasa o desenvolvimento de escolas qualificadas, além de impossibilitar a qualificação desses educadores para a produção de material didático que respeitem o ambiente e a cultural desse povo. Desse modo, as escolas e universidades se tornam ambientes da violência simbólica, definida pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, como espaços de reprodução das desigualdades sociais.    Face ao exposto, é necessário que o Ministério da Educação e Cultura desenvolva, por meio de políticas públicas, projetos educacionais que preparem as instituições de ensino para receber a população indígena, de modo a respeitar sua cultura, mediante a produção de material didático organizado juntos às comunidades em assembleias com temáticas que leve em consideração a realidade delas.