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Enviada em: 05/11/2017

Desde 1891, com a primeira constituição republicana, o país vive a expectativa de uma democracia preconizadora do bem-estar da coletividade. Contudo, no Brasil, a persistência das dificuldades impostas à formação educacional do surdos vai de encontro a esse anseio, uma vez que restringe e desqualifica a vida de muitos. Nesse contexto, urge o combate a essa realidade, o qual deve confrontar o mau uso dos bens públicos e a falta de diálogo.       Decerto, o conturbado histórico de crescimento das cidades corrobora o problema. Em consonância, na obra "A Urbanização Brasileira", o geógrafo Milton Santos referencia que essa expansão ocorreu, primordialmente, sob interesses corporativistas devoradores do patrimônio coletivo. Sendo assim, muitas escolas deixaram de receber recursos importantes para o pleno desenvolvimento de uma educação inclusiva e universal. Nesse viés, cabe apontar que a falta de tecnologias assistivas e de professores capacitados no ensino de Libras são reflexos, diretos ou indiretos, dessa conjuntura de negligência que dificulta a formação educacional dos brasileiros com essa deficiência.       Ademais, um outro agravante é a ausência de um debate amplo sobre o tema, envolvendo os diversos setores sociais. De fato, parafraseando o sociólogo Jurgen Habermas, a incapacidade de usar uma "razão comunicativa" impede a superação de muitas mazelas. Logo, a falta de um debate esclarecedor sobre a surdez condiciona uma visão limitante de soluções, perpetuando a problemática e fortalecendo os preconceitos. Muitos acreditam, por exemplo, na incapacidade generalizada dos que possuem essa deficiência. Nitidamente, um indício da existência de um preconceito que agrava a questão e demanda ser superado, principalmente por dificultar o acesso dos surdos à educação e à cidadania.       Fica clara, portanto, a necessidade de enfrentar essa situação. Por isso, a União precisa priorizar e viabilizar a educação para os surdos, por meio da aplicação correta dos recursos públicos, liberando verbas e incentivos fiscais para a capacitação de professores de Libras e a instalação de equipamentos assistivos. Concomitantemente, as escolas, aliadas à sociedade organizada, devem instigar o debate sobre o tema, mediante programas pedagógicos, cartilhas e produções culturais que desnaturalizem os preconceitos e valorizem a equidade e a a alteridade. Dessa forma, os indivíduos e o diálogo serão fortalecidos e a formação educacional dos surdos facilitada.