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Enviada em: 06/11/2017

Após a Revolução Francesa, os ideais iluministas paulatinamente teceram a teia cultural da hodiernidade. Como fruto desse processo, o acesso à educação universal, arquitetado por Rousseau, se tornou um dos pilares das preocupações estatais - assegurado pela Constituição Federal vigente e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conquanto, obstáculos se evidenciam na efetivação de tais direitos, mormente para quem foge da curva padrão da sociedade: os deficientes auditivos. Como corroborar uma cultura inclusiva, que garanta equidade no processo educacional?       Segundo Nelson Mandela, a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo. Na atualidade, 160 anos após a 1ª escola para surdos no Brasil, ainda é necessário o aprimoramento de mecanismos que garantam a real inclusão dessa parcela da população no ensino formal. Dessa forma, a sociedade ofereceria os instrumentos necessários para o próprio esclarecimento e poder de mudança sobre o mundo, além do acesso adequado ao mercado de trabalho. A garantia do acesso à escola pelas minorias diz respeito não só aos afetados, mas à construção democrática de toda a nação, visto que, como proferido por Paulo Freire, a liberdade só pode ser consumada em comunhão.       No entanto, como pontuado pelo sociólogo Karl Mannheim, a vivência pessoal define, em grau considerável, as vias de acesso ao conhecimento do mundo circundante, dificultando o olhar empático da sociedade para aqueles com deficiências específicas e, portanto, experiências distintas. Para Zygmunt Bauman, romper a barreira do individualismo e da repulsa ao diferente, em tempos de relações líquidas, talvez seja o maior desafio da modernidade. A boa administração dos governantes é fundamental para mitigar o preconceito sofrido pelos deficientes auditivos, reforçado por essa formação sociológica específica.       Infere-se, portanto, que para alcançar o acesso universal à educação, como Rousseau defendia, é indubitável a presença dos surdos. Para tal, a priori, o Estado deve, a médio prazo, progressivamente investir 5% do PIB em pesquisa na área das ciências médicas, com o fito de desenvolver avanços tecnológicos que melhorem a qualidade de vida dos surdos nas escolas, como, por exemplo, aparelhos de tradução simuntânea do conteúdo da aula para a LIBRAS, acessado pelo alunos pelo smartphone ou tablet. Paralelamente, à curto prazo, cabe às universidades (públicas e privadas) e empresas o oferecimento de cotas proporcional ao número de surdos da população nas instituições, com o intuito de incluí-los na sociedade e garantir sua autonomia. Nesse caminho, a equidade se tornará menos distante da utopia.