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Enviada em: 13/11/2017

Sonho Ufanista              Na obra pré-modernista “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que, se superados alguns pequenos obstáculos, o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que Policarpo desejasse demolir as barreiras à formação educacional dos surdos, problemas que, infelizmente, vigoram no país. Esse cenário é corroborado, principalmente, pela inobservância estatal somada à mentalidade social vigente.             Em primeiro lugar, é notório que o a negligência do governo está na origem do problema. De acordo com o economista inglês John Maynard Keynes, é dever do Estado suprir as necessidades básicas de seus cidadãos e assegurar-lhes o bem-estar. Contudo, o poder público vem, há décadas, ignorando sua responsabilidade de oferecer ensino especial de qualidade à população surda e, por esse motivo, milhares de crianças e adolescentes estudam em classes comuns, passando dificuldades para entender o conteúdo ministrado e interagir com os colegas.               Além disso, o estagnado ideário brasileiro é um entrave a resolução desse quadro. Segundo o poeta e dramaturgo francês Victor-Marie Hugo, “entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa”. Nesse sentido, pode-se afirmar que o fato de grande parte da população brasileira ignorar a atual conjuntura a qual os deficientes auditivos estão submetidos deve ser encarado como motivo de vergonha, pois esse comportamento, em certa medida, dá liberdade para que o Estado e a iniciativa privada continuem rejeitando esses alunos               Denota-se, portanto, que inserir o surdo no sistema educacional constitui um sério desafio para o país. Ao Estado, na figura de Ministério da Educação, compete garantir um ensino de qualidade a esse grupo, por meio da disponibilização de um interprete para cada turma com um indivíduo surdo e da inclusão da matéria Libras na grade do ensino fundamental e médio, permitindo que o aluno especial frequente classes comuns e assegurando a comunicação desse com os colegas. Paralelamente, a mídia, grande influenciadora, deverá inserir o debate na sociedade mediante obras de ficção – como filmes, séries e telenovelas – que abordem a temática, com o intuito de incentivar a população a exigir que instituições de ensino técnico e superior ofertem cursos para deficiente auditivos. Assim, com Estado e sociedade civil unindo forçaS, o sonho ufanista do Major Quaresma estará mais próximo de tornar-se realidade.