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Enviada em: 06/11/2017

O conceito de "modernidade líquida", cunhado pelo pensador Zygmunt Bauman, diz respeito aos aspectos da humanidade pós-moderna, pautados na superficialidade e no imediatismo. Com isso, as relações sociais ficam prejudicadas, já que as pessoas tendem a não atentarem-se às particularidades de cada indivíduo. Um dos exemplos desse problemático cenário é a defasagem - e a dificuldade - no ensino de surdos no Brasil. Desse modo, a discussão sobre o preocupante fato faz-se urgente e necessária, a fim de buscar medidas possíveis para a melhoria do quadro. Assim, para debater o assunto, é preciso analisar o sistema de ensino vigente no país, que pode não estar sendo devidamente inclusivo. Segundo o educador brasileiro Paulo Freire, há atualmente a chamada "educação bancária", mais focada no depósito de conteúdos de matérias teóricas, em detrimento das práticas. Esse desequilíbrio gera pouca autonomia no indivíduo e, logo, uma formação insuficiente; afinal, nas escolas, praticamente não há instruções acerca do tratamento correto com os surdos no cotidiano. Essa ausência faz com que os deficientes não recebam o digno suporte nas salas de aula, nos estabelecimentos comerciais, e até no mercado de trabalho, o que mostra mais empecilhos ao longo da vida. Além disso, percebe-se que, mesmo com a matrícula de alunos surdos em salas de aula comuns, esses não são totalmente inseridos no ambiente escolar. Ou seja, os estudantes sem a deficiência raramente são ensinados a acolher os diferentes, o que denota certa negligência do sistema com a situação. E, de acordo com dados do Inep, entre 2012 e 2016, o número de estudantes surdos em ambas as classes comuns e especiais caiu de forma considerável e gradual. As estatísticas ilustram a gravidade da situação, já que, como os deficientes auditivos não estão sendo recebidos da forma ideal, o contexto educacional gera ainda mais exclusão. Portanto, para melhorar a atual conjuntura, é crucial haver medidas importantes e efetivas. Assim, o Ministério da Educação (MEC) deve incluir, nas grades curriculares de escolas públicas e particulares, dois tópicos: o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e de matérias interdisciplinares. Isso seria feito para promover uma melhor interação e comunicação com os surdos, e para conhecer melhor o ponto de vista deles. Ademais, as escolas em todo o território nacional podem ministrar cursos para os professores e alunos, no processo de inserção de surdos na sala da aula, a fim de evitar preconceitos e criar um ambiente acolhedor aos deficientes. Por fim, as medidas expostas podem otimizar o atual contexto e, assim, fazer da modernidade mais humana e menos "líquida", como dito por Bauman.