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Enviada em: 17/08/2018

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos órgãos de saúde brasileiros, que buscam ultrapassar as barreiras para aumentar a adesão da população a vacinação. Nesse contexto, não há dúvidas de que para garantir a imunização efetiva de todos é um desafio no Brasil que ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também à postura indolente da sociedade.    Em princípio, a Constituição Cidadã de 1988 garante saúde de qualidade como direito de todos e dever do Estado, sendo o compromisso deste prover o acesso igualitário e universal às ações e serviços para sua formação e proteção, todavia, o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não apenas do abastecimento regular dos estoques de imunobiológicos nos postos de vacinação, como também de campanhas para a disseminação de informações não são feitas de maneira efetiva para população, como resultado a taxa de vacinação está abaixo do ideal que seria 95%, de acordo com o Planejamento Nacional de Imunização, fazendo os direitos permanecerem no papel.     A posteriori, o conceito de Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, explica a queda das atitudes éticas pela fluidez dos valores, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, o sujeito, ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por recusar a profilaxia em crianças permitindo que doenças erradicadas, como o sarampo, voltem a figurar em território nacional, cujas causas podem ser explicitadas pelas imprecisões das informações oferecidas à comunidade acerca da relevância dos processos de vacinações. Apesar de triste, esse quadro não é novidade no Brasil e relembra a Revolta da Vacina no início do século XX, quando por falta de informação e campanha adequada a população periférica do Rio de Janeiro se recusou a tomar a vacina contra a varíola. Em vista disso, os desafios para a para garantir a efetiva vacinação dos brasileiros estão presentes na estruturação desigual e opressora da coletividade, bem como em seu viés individualista.