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Enviada em: 09/10/2018

Em sua obra “Vidas Secas”, Graciliano Ramos enfatiza a ideia de que o sofrimento humano não é decorrente apenas das condições naturais desfavoráveis, mas também do próprio homem, que pode amenizá-lo e não o faz. Contudo, ao observar o contexto atual, verifica-se que o ser humano criou mecanismos capazes de atenuar infortúnios, porém, enfrenta dificuldades na implementação desses. Nesse viés, insere-se a vacinação, importante ferramenta de combate às mazelas, mas que encontra barreiras em seu processo de efetivação, como os movimentos antivacina e a marginalização social.       Primeiramente, convém destacar o desconhecimento popular acerca do recurso de imunização como principal justificativa para a ocorrência da Revolta da Vacina em 1904. Entretanto, apesar de ter acontecido há mais de um século, o cenário observado hodiernamente não apresenta diferenças consideráveis. Nesse âmbito, a falta de conhecimento e a disseminação de falsas informações sobre o funcionamento das vacinas e de seus efeitos colaterais ocasionaram o surgimento dos movimentos antivacina. Dessa forma, grupos contrários ao processo de imunização desencadeiam dificuldades no que tange à garantia da profilaxia dos brasileiros; prova disso é que, segundo dados do Programa Nacional de Imunização, a taxa de vacinação no ano de 2017 foi a menor desde 2001, em virtude, principalmente, desses movimentos.        Em segunda instância, se por um lado existem indivíduos que se recusam a passar pelo processo de profilaxia, por outro, existem cidadãos que não têm acesso ao método. Sendo assim, embora a saúde seja um direito constitucional, essa prerrogativa não é democratizada, visto que grupos marginalizados socialmente, como os índios brasileiros, enfrentam dificuldades na obtenção de imunobiológicos. Nessa vertente, conforme informado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena, 17% das tribos da região amazônica não receberam vacinas no ano de 2017. Dessa forma, pode-se afirmar, em consonância com o pensamento de Locke, que a ineficácia de um sistema é resultado de uma gestão ineficiente de recursos.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem esse impasse. Logo, convém que o Ministério da Saúde, em parceria com a mídia, procure conscientizar a população acerca do funcionamento das vacinas, por meio da criação e divulgação de um site pelo qual os cidadãos poderão contatar profissionais em casos de dúvida, de modo a aumentar a adesão popular à prática. Outrossim, cabe às Secretarias Municipais fiscalizarem, com o uso de plataformas virtuais de controle, os destinos e distribuição dos medicamentos nas cidades brasileiras, a fim de garantir o acesso nacional às vacinas e, desse modo, corroborar a amenização do sofrimento humano descrito na literatura.