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Enviada em: 04/09/2018

Jeca Tatu, importante personagem da literatura brasileira, é o estereótipo da doença, da miséria e do abandono. Nas obras de Monteiro Lobato, Jeca simboliza a ausência do Estado na vida dos trabalhadores rurais, colocados à margem do sistema e com uma realidade distante da presente nos grandes centros urbanos, com sua política sanitarista, seguindo os padrões europeus. A crítica social feita pelo autor ainda se aplica na atualidade, devido ao precário saneamento que se instaura no Brasil e evidencia outra face da desigualdade e, bem como, condiciona o aumento dos gastos com saúde.    Destaca-se, a princípio, as divergências sanitárias entre as localidades do país e como elas afetam a qualidade de vida dos cidadãos. Segundo o Instituto Trata Brasil, mais de 35 milhões de brasileiros não têm acesso a esse tipo de serviço, representando mais de 43% da população. Contudo, ao se comparar esses dados com os Norte do país, o pior nesse quesito, esse índice sobe para 90% dos indivíduos. Com isso, essa realidade condiciona inúmeros outros fatores, como, por exemplo, a grande mortalidade infantil na região, ocasionada pela desidratação provocada por diarreia na ausência de água potável. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), quase nove décimos das mortes por diarreia no mundo são causadas pela falta de saneamento adequado, sendo, desse total, 84% de crianças.     Outrossim, apesar dos números significativos de residências ligadas à rede no Sudeste e Sul, uma parte ínfima desse esgoto recolhido recebe o tratamento adequado sendo, o restante, despejado em rios, lençóis freáticos e no mar. Dessa forma, esses resíduos infectam quem se utiliza dessas águas para o consumo direto ou como forma de retirar seu sustento e, ainda, os sujeita a vetores que utilizam esses meios para a reprodução. Dessarte, nessas localidades, é comum o adoecimento da população por doenças como zika, dengue, ascaridíase e febre amarela, alavancando os gastos públicos. Segundo a OMS, cada dólar investido em saneamento seria responsável pela economia de outros quatro, destinados à saúde. Entretanto, essa realidade ainda é distante no cenário brasileiro.   A precariedade dos serviços urbanos condiciona inúmeros problemas, dentre eles o aumento no número de doenças que ameaçam a população. Cabe, portanto, a adoção de medidas capazes de solucionar o problema. O governo federal, em consonância com os órgãos municipais, deve direcionar fundos para a realização das ligações das casas com as redes de coleta e distribuição de água potável. Bem como, tem que se investir na criação de novas usinas de tratamento de resíduos orgânicos, a fim de evitar que sejam despejados em locais indevidos. É necessário, também, a catalogação das regiões que concentram as maiores problemáticas, para a criação de estratégias à curto e longo prazos para a adequação dos capitais e as articulações em prol da melhoria nas condições de vida dos indivíduos.