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Enviada em: 02/10/2018

Na obra "Urupês", do paulista Monteiro Lobato, é relatada a história do caboclo Jeca Tatu, que ficou imortalizado na literatura nacional como uma pessoa preguiçosa e que não gostava de trabalhar. No entanto, Jeca foi uma vítima do descaso do poder público com relação ao âmbito social, de forma que, sem nenhuma base educacional, ele contraiu ancilostomose pelo fato de sempre andar descalço, o que mostra que sua preguiça era, na verdade, um sintoma provocado pela verminose. Nessa perspectiva, nota-se que a banalização da questão socioestrutural no Brasil é um problema antigo e precisa ser combatido.  Deve-se pontuar, a princípio, que o saneamento básico é um direito que consta na Magna Carta de 1988, contudo, grande parcela da população brasileira, sobretudo nas Regiões Norte e Nordeste, não desfrutam de tal garantia. Além disso, a ausência da rede de saneamento está, geralmente, associada ao despreparo das prefeituras em relação à realização de projetos que viabilizem a instalação dessa obra nesses locais, tendo em vista que, em muitos casos, há disponibilidade de recursos financeiros, porém a administração municipal não consegue cumprir com as exigências propostas pelo Governo Federal devido à falta de profissionais capacitados.  Vale ressaltar, também, que a ausência de saneamento básico traz malefícios, inclusive, para a esfera educacional. Isso é afirmado, pois, de acordo com um estudo realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 2011, cerca de 65% das internações em hospitais de crianças com menos de 10 anos são provocadas pela inexistência de um complexo de rede de esgoto e água tratada, fato que gera efeitos negativos no desempenho escolar desses indivíduos, já que, quando há ocorrência de doenças em crianças mais novas, essas patologias podem interferir na formação e no desenvolvimento adequado da região cerebral. Logo, identifica-se a necessidade do Estado modificar sua maneira de atuação perante essa condição adversa.  Depreende-se, portanto, que o Governo Federal, em atuação sinérgica com a gestão municipal, precisa realizar projetos e obras que garantam melhores condições de saúde para os indivíduos que ainda não usufruam dos direitos previstos na Constituição Cidadã de 1988. Isso pode ser feito por meio da disponibilização de verbas e de construtoras capacitadas para realizarem a implementação do saneamento básico nas áreas de maior vulnerabilidade social do país. Tal ação tem como objetivo reduzir as ocorrências de contaminação e proliferação de doenças e, ao mesmo tempo, garantir a preservação dos recursos hídricos dessas localidades. Assim, pode-se almejar um cenário em que o descaso sofrido por Jeca Tatu não acometa novos cidadãos e cidadãs brasileiros.