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Enviada em: 13/06/2018

A obra intitulada "Laranja Mecânica", de Anthony Burgues, discorre a respeito da falta do senso de coletividade e do uso de substâncias químicas. Apesar de toda subjetividade, a trama serve como um gancho para abordar sobre os obstáculos encontrados no tratamento de dependentes químicos no Brasil a partir do momento em que é corroborada a dicotomia existente entre indivíduo e investimento. Nesse sentido, faz-se necessária uma análise desse hábito nocivo, porém, já enraizado, além de soluções para combatê-lo.    É necessário considerar, antes de tudo, a resistência do usuário ao tratamento. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a dependência química é considerada um transtorno mental. Ademais, a dificuldade de adesão ao recurso terapêutico é um problema, caracterizado pelo entrave da necessidade compulsiva de usar substâncias lícitas ou ilícitas. Além disso, o uso de substâncias químicas ocasiona um momento de "alívio" para o dependente. Logo, a evasão, somada à dificuldade de manter a abstinência, é comum em clínicas de reabilitação, haja vista que estatísticas demonstram uma taxa de 90% de reincidência ao uso das substâncias, conforme o Ministério Público.    Convém analisar, também, a dificuldade de reorganizar o indivíduo por completo. De acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, a modernidade líquida é marcada pela efemeridade e individualidade das relações. Atualmente, estima-se que haja mais de três mil casas terapêuticas no Brasil. Entretanto, as dificuldades do tratamento para dependentes químicos em si, intensificadas muitas vezes pela falta de apoio de famílias desarticuladas, soma-se a um sistema público de saúde particularmente desaparelhado, configuram-se em exemplos que ratificam os empecilhos encontrados na liquidez de Bauman. Afinal, a desintoxicação por si mesma não cria uma visão de reabilitação e demanda cuidados que vão além dos médicos.    Fica claro, portanto, que resolver os impasses da dependência química não é apenas curar os efeitos que as drogas causam no indivíduo, é reorganizar o indivíduo por completo. O Ministério da Saúde deve ampliar seus investimentos a fim de criar clínicas terapêuticas, centros de apoio e, ademais, contratar profissionais especializados para atuarem na recuperação dos dependentes. É também de suma importância que a mídia, juntamente com cooperativas, possam se envolver difundindo valores e criando campanhas antidrogas, na tentativa de reforçar a mensagem do quão nocivo é o consumo de tais substâncias. Dessa forma, haverá a mobilização de um todo, a fim de superar algo tão latente abordada na modernidade de Bauman.