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Enviada em: 29/08/2018

Desde o iluminismo, a sociedade só progride quando cada um se mobiliza pelo problema do outro. Entretanto, quando se observa o tratamento de dependentes químicos no Brasil, constata-se que esse ideal iluminista só funciona na teoria e não desejavelmente na prática. Nesse contexto, a insuficiência de políticas públicas e a postura negligente da sociedade são fatores que dificultam o tratamento de viciados no país.       Em primeira análise, é preciso destacar que os investimentos governamentais possuem como foco o combate ao tráfico de drogas, e não uma política que priorize o tratamento aos dependentes químicos. Desse modo, evidencia-se a insuficiência de verbas destinadas à esfera do acolhimento e do resgate da dignidade de pessoas acostumadas a uma rotina de exclusão e violência. Apesar dos avanços promovidos pelo extinto programa governamental "De Braços Abertos", que oferecia moradia, alimentação, trabalho e tratamento para dependentes da Cracolândia, ainda há muito a ser feito para a reinserção desses indivíduos na sociedade. Diante disso, é notável a ausência de redes capazes de proporcionar acolhimento aos 8 milhões de brasileiros dependentes de maconha, álcool ou cocaína.       Ademais, deve-se considerar a falta de empatia, presente no corpo coletivo brasileiro, como um sustentáculo do desmazelo. Segundo José Saramago, a insensibilidade pelo outro eleva os níveis de exclusão. Com efeito, a sociedade atual ainda mantém aspectos de segregação, cujos tratamentos aos dependentes químicos são de indiferença e, com isso, acentua os altos níveis de exclusão e um avanço ainda maior para a marginalização desses indivíduos. Dessa maneira, a sociedade admite uma posição passiva diante da ausência de políticas públicas aos viciados, o que faz com que não exista incentivo coletivo para que haja a procura de tratamento, agravando, assim, o problema no país.       Torna-se evidente, portanto, a necessidade de ações efetivas para mitigar o impasse social vivido pelos dependentes químicos no Brasil. Assim, é dever do Governo Federal promover um maior investimento no Ministério do Desenvolvimento Social, o qual deve criar projetos que visem à construção de centros de tratamento para dependentes em todos os polos regionais do país, além da disponibilização de cursos técnicos gratuitos a esses indivíduos, de modo a garantir os direitos básicos previstos na Constituição. Além disso, cabe ao Ministério da Educação, por meio de palestras e campanhas publicitárias, incentivar o coletivismo no país, o que culminaria em um ambiente mais receptivo e, consequentemente, em menor necessidade de fuga da realidade. Ademais, é essencial que a iniciativa privada, por meio de financiamentos, passe a auxiliar as ONGs destinadas ao tratamento de viciados, para que, desse modo, esses indivíduos possam ser reinseridos na sociedade.