Materiais:
Enviada em: 20/08/2019

Em um de seus poemas, Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro, usa o termo "pedra no meio do caminho" como metáfora aos obstáculos vividos na vida de seu eu lírico. Dessa forma, é possível perceber que em todo caminho haverá dificuldades. Análogo a isso, fora do espaço literário, ao analisar a situação do tratamento dos dependentes químicos no Brasil, é possível perceber que o despreparo da família dos usuários somado a exclusão social pós internação - período crucial para superação da dependência - são desafios às transformações que essa situação requer.   Em primeiro lugar, é importante ressaltar que um ambiente familiar saudável é de suma importância para a manutenção da saúde mental de um indivíduo visto que, família representa afetividade e aconchego. No entanto, muitos dependes, pré e pós tratamento, enfrentam problemas devido a vivência em um lar com falta de compreensão e afetividade o que, consequentemente, favorece o comprometimento da autoestima e por conseguinte, pode levar a pessoa a sucumbir as drogas. De fato, tal atitude se assemelha ao que ocorre na série americana "A Maldição da Residência Hill", em que Luke - personagem usuário de heroína - encontra dificuldade de vencer seu vício e tem várias recaídas devido à falta de apoio moral e acolhimento de sua família.   Vale ressaltar, ainda, que pensamentos e ações preconceituosas como a falta de empatia e a exclusão social de ex-usuários são evidentes na sociedade e colaboram para manutenção da "pedra no meio do caminho" citada por Drummond. Nesse sentido, é possível perceber que a população não só possui uma visão latente de que não há uma plena recuperação de um usuário, como também preservam a imagem de um ser não confiável e diante disso, indivíduo é impossibilitado de ter um convívio social saudável. Ou seja, dificulta-se a obtenção de emprego e de ressocialização o que, posteriormente, pode leva-lo a consumir drogas novamente e com que o mesmo desacredite da internação posto que, não há resultados efetivos. Assim, explica-se os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em que aponta uma diminuição de mais de 8 mil internações por drogas ilícitas, mostra-se, portanto, a urgência da modificação dessa conjuntura.   Por isso, é preciso que o Estado tome providências para superar esse impasse relacionado ao tratamento de dependentes químicos. Cabe ao Ministério da Saúde, portanto, investir em campanhas com profissionais qualificados, como médicos e psicólogos, em que objetiva-se mostrar, por meio de palestras, a importância do apoio e de um ambiente familiar saudável para uma pessoa em tratamento. Desse modo, será oferecida a oportunidade de reflexão sobre o próprio consumo além de transformar uma sociedade punitiva em uma restaurativa. Logo, a "pedra no meio do caminho" será removida.