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Enviada em: 22/10/2018

Em Novembro de 2015, Bento Rodrigues, distrito da cidade Mariana (MG), foi completamente dizimado pela maior tragédia socioambiental da história do Brasil: o rompimento da Barragem de Fundão, que era responsável pelo apresamento de dejetos resultantes da atividade mineradora da empresa Samarco. Esse desastre foi responsável por perdas socioculturais, ambientais e humanas que são incomensuráveis pelo crivo econômico; além de ter causado a morte de 19 pessoas, desalojou cerca de 360 famílias, interrompeu o funcionamento da Usina Hidrelétrica de Candonga - que fomentou uma crise de abastecimento hídrico em 9 cidades circunvizinhas -, percorreu o trajeto do Rio Doce e desaguou no mar, causando a defaunação de diversas espécies vegetais e animais. Há quase 3 anos completos da ocorrência, perdura o descaso da empresa e do poder público para com as vítimas.        Segundo um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), quase 30% dos atingidos pelo desastre sofrem com doenças psíquicas, tais como a ansiedade e depressão, sobretudo as crianças. Esse índice é cerca de 5 vezes maior que o percentual de ocorrência no restante do país. A priori, a incidência dessas patologias confluem com distúrbios pulmonares como a silicose e a tuberculose, devido ao excesso de materiais particulados no ambiente, assim como pelo trauma sofrido pela perda da casa, das fontes de renda, de familiares e da destruição de laços comunitários.        Lato sensu, Mariana foi atingida pela demissão de funcionários da Samarco, pela diminuição de circulação de capitais, devido à interrupção da atividade mineradora e, consequentemente, pelo fechamento de empresas locais. Por conseguinte, ocorreu a desertificação irreversível do solo e o assoreamento do Rio Doce, com prejuízos na agricultura e na pesca. A posteriori, o desastre poderia ser evitado com a promoção de fiscalizações pela Secretaria do Meio Ambiente, haja vista que a pressa por exportar os minérios negligenciou a atenção para as normas de segurança que deveriam ser adotadas pela empresa, como o uso de sirenes e um plano emergencial para possíveis acidentes.        Em síntese, todos esses impactos supracitados sofrem pela morosidade da empresa e do poder público em cobrar a indenização e reparação ambiental dos danos causados pela mesma. Portanto, é necessário que a Defensoria Pública tome frente da situação, visando desburocratizar os processos jurídicos. Além disso, é necessário que o Estado, em coalizão com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, promovam o tombamento das ruínas de Bento Rodrigues, pelo direito à preservação da memória e para que o local evidencie os danos causados pela exploração desenfreada ao meio ambiente e pelo desrespeito aos processos de biocenose da natureza. Em paralelo à Carlos Drummond, a população desse pequeno distrito vive, hoje, com "oitenta por cento de ferro nas almas".