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Enviada em: 28/07/2017

A diversidade humana sempre existiu, e a história revela os percalços da difícil convivência entre os diferentes. Desde tempos mais remotos as pessoas são classificadas e, devido a atribuições de valor, hierarquias são produzidas. No Brasil não é diferente, quando foi colonizado, por volta de 1500, os portugueses impuseram aos índios e, mais tarde, aos negros as suas civilidades. Desde então perpetua no país uma sociedade desigual com formas de violência, dominação e exclusão arraigadas, ao que Thomas Hobbes chamou de guerra generalizada de todos contra todos.       Nestas circunstâncias, pode-se afirmar que a questão constitucional e a sua aplicação estejam entre as causas do problema. Parafraseando o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o instrumento criado para implementar a democracia direta não deve ser convertido em um mecanismo de opressão simbólica. A máxima do autor no contexto brasileiro, evidencia-se no apoio massivo por parte da população às soluções irracionais e violentas, como a redução da maioridade penal.       Esse tipo de desejo indiscriminado de punição está relacionado com um modelo de vida individualista, incapaz de reconhecer que os jovens, que se pretende excluir do convívio social, são mais vítimas dos crimes que autores. Pois, como exemplificado na obra Capitães da Areia de Jorge Amado, os jovens abandonados pelos pais e pela sociedade vêem na marginalidade o único caminho para a sobrevivência.       Diante desse diapasão, entende-se que rever o passado para deslegitimizar formas de poder e dominação é imprescindível para encontrar outros sentidos para o presente e para o futuro. Para tanto, cabe ao Estado, como gestor dos interesses coletivos, implementar políticas públicas a fim de conferir aos jovens marginalizados o acesso aos direitos básicos, haja vista que a construção da identidade se dá a partir das condições reais de vida. Além disso, faz-se mister ressaltar a relevância da democratização da produção e do acesso à informação já que, a reflexão crítica e o conhecimento são instrumentos indispensáveis à desconstrução do sensacionalismo midiático. Por outro lado, compete aos grupos formadores de opinião, tais como a família, os professores e a mídia formar indivíduos capazes de se relacionar com a coletividade com o critério da cooperação e não de utilidade, por meio da promoção do diálogo e da tolerância da percepção que é diversa. Só assim será possível reconhecer o outro com um ser concreto que tem suas razões de ser, estar e agir.