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Enviada em: 11/06/2018

Machado de Assis, em seu conto "O alienista", narra a história do cientista Simão Bacamarte que, por amar unicamente a sua profissão, escolhe sua esposa somente pelo fato de julgá-la capaz de gerar descendentes férteis. Fora das obras artísticas, a ironia machadiana acerca do método científico parece dialogar com a questão da doação de órgãos no Brasil, visto que os dilemas acerca de tal decisão permanecem enraizados na mentalidade dos brasileiros, seja pela falta de informação, seja pela replicação de valores tradicionais.        Em primeira análise, é necessário compreender a sociedade: conforme o pensamento  do sociólogo Max Weber, as atitudes sociais são resultados do imaginário coletivo. Sob tal aspecto, é válido inferir que, para garantir a popularização efetiva das doações de órgãos, é necessário o esclarecimento de algumas ideias ultrajadas sobre esse tema. Dentre elas, a concepção da possibilidade da junta médica não se esforçar para que haja a preservação da vida de um possível doador, sendo esse o questionamento mais frequente feito à Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, dessa forma, percebe-se a importância de debater esse assunto.       De maneira semelhante, é perceptível o modo pela qual a sociedade civil contribui na perpetuação dessa problemática. De acordo com Émille Durkheim, seguindo a Teoria Funcionalista, a escola e a família são bases para a formação cidadã. Nessa perspectiva, em muitos ambientes escolares, meios que unidos à família compõem os valores essenciais de um indivíduo, não se observa estímulos sobre tal assunto, por exemplo, em se autodeclarar diante de seus familiares. Assim, percebe-se que há uma imensa desinformação, o que acaba por gerar insegurança diante do processo e, por isso, vê-se a imprescindível atuação estatal na superação dos mitos propagados perante a questão da doação de órgãos.       Fica evidente, portanto, que há diversos entraves para que haja o aumento das taxas de doação de órgãos neste país. Em função disso, é necessário que o Estado, representado pelo Ministério da Saúde e da Educação, incentivem os debates nas escolas brasileiras sobre doação de órgãos, por meio de oficinas de teatro e cinema, mas que ultrapassem os muros dessas e cheguem às praças, como ocorria na Antiga Grécia. Espera-se, com isso, que seja possível criar uma solidariedade social, reduzindo, assim, os índices de pessoas nas filas de espera.