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Enviada em: 22/07/2018

A sociedade brasileira hodierna enfrenta um grande entrave sociocultural no que tange a doação de órgãos. Alicerçada no medo e corroborada pelo desconhecimento, a decisão sobre o destino dessas unidades de vida costuma ser o desperdício, quando não a inconsequência. A princípio, é mister atentar-se ao medo em declarar-se doador. Nesse contexto, vale ressaltar que o Brasil já foi um país consideravelmente ativo no ramo de comércio ilegal de órgãos. Isso, indubitavelmente, ajudou a arraigar a ideia de que haveria alguém interessado em lucrar com a causa, quiçá, a ponto de dar um "empurrãozinho" à morte encefálica, uma lógica próxima ao verso "O beijo, amigo, é a véspera do escarro" do escritor pré-modernista Augusto dos Anjos no poema Versos Íntimos. De modo a jungir ao problema supracitado, o incentivo à doação ainda é muito deficitário. É extremamente comum as pessoas perceberem a importância dessa solidariedade apenas quando aproximam-se de uma situação desventurosa de pelo menos acompanharem um amigo ou ente querido cuja vida possa depender dessa conscientização de outrem. Esse lugar comum evidencia a falta de campanhas e propagandas capazes de dialogar com os cidadãos e encorajá-los. Evidencia-se, assim, o contexto cultural fortemente abraçado pelo receio e temor. Sugere-se, logo, que o governo reitere suas formas de expor a importância da doação de órgãos para além de cartazes em hospitais; é necessário que o assunto seja trabalhado de forma mais natural, encorpando a grade extracurricular desde o ensino fundamental como uma aula de extensão semanal de ciências. A título de complemento, importa ao SUS oferecer informações do órgão doado até que seja transplantado, a fim de ratificar a legalidade do processo. Vale também, através de incentivos fiscais, solicitar auxílio da mídia televisiva a sensibilizar as pessoas e destacar ONGs. Apenas assim, disseminar-se-iam ideais construtores de uma sociedade na qual Versos Íntimos sejam apenas literários; jamais literais.