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Enviada em: 05/09/2017

Em 1954, pela primeira vez na História, um órgão era transplantado em Boston, nos Estados Unidos. Dez anos depois, esse procedimento médico chegava ao Brasil. Após mais de seis décadas, hoje o Brasil é o segundo país no mundo em que mais se realizam transplantes. Apesar de ser muito em números absolutos, relativamente à "fila de espera" isso é uma porcentagem baixa. Tal discrepância ocorre pois muitos doadores em potencial não doam, normalmente por desinformação da população, e muitos órgãos doados são "desperdiçados" por falta de infraestrutura hospitalar.         São mais de quarenta mil pessoas na fila de espera, mais da metade esperando rins, e - ainda que esse número esteja subindo a cada ano - houve apenas cerca de três mil doadores em 2016, segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes, o SNT. Na grande maioria dos casos, os órgãos são doados por pessoas que tiveram morte encefálica, e apenas a família pode autorizar a doação, mesmo que contrariando o desejo da pessoa em vida. Disso decorrem dois problemas: o primeiro é que, segundo pesquisa do SNT, cerca de 64% dos entrevistados desejavam ser doadores, mas apenas 39% já conversaram com a família sobre isso, ou seja, falta diálogo; além disso, dentro de um viés religioso, é comum a família nem ao menos autorizar o "desligamento dos aparelhos" por achar que o paciente ainda "voltará", ou tem medo de que o corpo fique desfigurado pelo processo.        Além das doações serem escassas, muitas não são completadas por falta de infraestrutura hospitalar - 92% delas são realizadas pelo SUS. Segundo dados da Central Nacional de Captação de Órgãos, cerca de 70% são desperdiçados: ou o hospital não anuncia a morte encefálica à Central, ou eles se tornam inutilizados por erros no manuseio, ou, pior ainda, se tornam inutilizáveis por demora no transporte. Como apenas cinco estados brasileiros contam com aeronáveis exclusivas para isso, a maioria dos órgãos são transportados em vôos comerciais ou, raramente, por aviões da Força Aérea Brasileira, o que acarreta perdas e inutilizações.       Toda esta expectativa criada pela alta "demanda" e baixa "oferta" acaba gerando um mercado negro de órgãos, com rapto de pessoas para a retirada ilegal e tráfico deles, movimentando milhões de reais no Brasil todo ano. Portanto, além de humanitária, a maximização da qualidade da doação de órgãos é necessária para combater o tráfico dos mesmos, um crime que avilta contra a dignidade humana. Para isso, é necessária uma maior conscientização da população sobre o processo, desmistificando vários pontos, com mais campanhas realizadas pelo Ministério da Saúde nos meios de comunicação e redes sociais, com conseguinte discussão do tema pela sociedade, além de melhor preparo psicológico e técnico dos profissionais de saúde que atuam na área e maior investimento financeiro do Governo Federal nessa área do SUS.