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Enviada em: 06/09/2017

Em 1954, pela primeira vez na História, um órgão humano era transplantado em Boston, nos Estados Unidos. Dez anos depois, esse procedimento médico chegava ao Brasil. Após mais de seis décadas, hoje o Brasil é o segundo país em que mais se realizam transplantes. Apesar de ser muito em números absolutos, relativamente à "fila de espera" isso é uma porcentagem baixa. Tal discrepância ocorre pois muitos doadores em potencial não doam, normalmente por desinformação da população, e muitos órgãos doados são "desperdiçados" por falta de infraestrutura hospitalar.       São mais de quarenta mil pessoa na fila de espera, mais da metade esperando por rins, e - ainda que esse número esteja subindo a cada ano - houve apenas cerca de três mil doares em 2016, segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes, o SNT. Na grande maioria dos casos, os órgãos são doados por pessoas que tiveram morte encefálica, e apenas a família pode autorizar a doação, mesmo contrariando o desejo da pessoa em vida. Disso decorrem dois problemas: o primeiro é que, segundo pesquisa do SNT, cerca de 64% dos entrevistados desejavam ser doadores, mas apenas 39% já conversaram com a família sobre isso, ou seja, falta diálogo; além disso, é comum a família nem ao menos autorizar o "desligamento dos aparelhos" por crer que o paciente ainda "voltará", dentro de um viés religioso, ou ter medo de que o corpo seja desfigurado pelo processo.       Além de as doações serem escassas, muitas não são efetivadas por falta de infraestrutura hospitalar - 92% delas são realizadas pelo SUS. Segundo dados da Central Nacional de Captação de Órgãos, cerca de 70% dos órgãos são desperdiçados: metade das mortes encefálicas não são anunciadas pelos hospitais à Central, e vários órgãos se tornam inutilizáveis ou por erros no manuseio ou por demora no transporte. Isso porque, como apenas cinco estados brasileiros contam com aeronaves exclusivas para o serviço, o comum é que órgãos  sejam transportados em vôos comerciais ou, raramente, por aviões da Força Aérea Brasileira, a FAB.       Como toda essa expectativa gerada por uma grande "demanda" e pouca "oferta" cria um grande mercado negro de órgãos no Brasil, além do caráter humanitário, a maximização da qualidade da doação de órgãos é necessária também para combater o tráfico deles, um crime que avilta a dignidade humana. Para isso, é necessário uma maior discussão do tema pela sociedade, com a desmistificação de vários pontos, por meio de mais campanhas de conscientização feitas pelo Ministério da Saúde. Ademais, é preciso uma melhora na logística do transporte de órgãos, o que deve ser feito a partir da criação de unidades específicas FAB pelo Governo Federal em cada estado do país, de forma integrada, para que o transporte de órgãos seja feito não mais "de carona", mas em caráter de urgência e de prioridade.