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Enviada em: 27/10/2017

"Morrer é um absurdo." A frase do filósofo Shopenhauer exprime bem o quanto, na cultura ocidental, a experiência da morte é algo extremamente doloroso, quase um tabu. Dessa forma, quando se fala em doação de órgãos, há que se considerar o contexto de profundo sofrimento e perda em que tal decisão deve ser tomada pela família. Sendo assim, é imprescindível que a equipe de profissionais atuantes nesse processo seja devidamente capacitada para lidar com uma conjuntura que exige diligência e, ao mesmo tempo, grande sensibilidade.        Embora o Brasil possua um programa de transplante de órgãos razoavelmente estruturado, com 95% dos procedimentos sendo realizados pelo SUS e uma Central de Transplantes funcionante, há, em média, 40.000 pessoas aguardando na fila, por um órgão. Esses são dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, os quais evidenciam a disparidade entre o número de órgãos captados e o número de potenciais receptores. A mesma entidade explica que aproximadamente metade dos familiares não autorizam a doação de órgãos, sendo esse um grande impeditivo para o aumento na quantiade de transplantes, uma vez que, no Brasil, quem autoriza o procedimento são os familiares. Nesse sentido, muitas vezes, a não compreensão do que vem a ser a morte encefálica, acrescida de crenças religiosas, impedem a familia de decidir favoravelmente pela doação.        De outra parte, há a questão da capacitação e aparelhamento dos profissionais que trabalham na área. Como a marioria dos possíveis doadores são atendidos em serviços de emergência frequentemente lotados e com uma demanda de atendimentos muito maior que a quantidade de profissionais disponíveis, não raro há subnotificação dos casos de morte encefálica à Central de Transplantes. Ademais, existe ainda outro complicador: o pequeno contingente de profissionais efetivamente capacitados para acolher as famílias e orientá-las adequadamente sobre as condições de falecimento do ente querido e a importância da doação de órgãos para salvar outras vidas.        Aperfeiçoar e ampliar o programa de doação de órgãos no Brasil é, portanto, medida que se impõe. Para isso, os meios de comunicação, como a TV e as redes sociais, devem ser ulitizados pela sociedade civil, ONGs e órgãos governamentais para promover campanhas de informação e orientação sobre a relevância da doação de órgãos, estimulando as famílias a conversarem sobre o assunto e  a exporem sua vontade de serem doadores. Além disso, é necessário que o Estado invista na ampliação e profissionalização do sistema de captação de órgãos, por meio de cursos de capacitação que envlolvam disciplinas como Tanatologia e Psicologia. Destarte, a morte, apesar de absurda e dolorosa, também pode representar o recomeço de outra vida.