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Enviada em: 29/10/2017

O documentário “Anjos da Vida” retrata de forma impactante, dentre outras perspectivas, o drama das pessoas na fila de espera para transplantes no Brasil. Nessa conjuntura, dados do Ministério da Saúde afirmam que em dezembro de 2016 havia cerca de 39 mil pessoas na lista esperando por doação. Diante disso, certos aspectos fazem-se relevantes: a falta de fraternidade vigente na sociedade contemporânea aliada à carência de unidades de atendimento e profissionais capacitados em algumas regiões do país.           Em primeira análise, cabe salientar que a partir do iluminismo tem-se a ideia de que uma sociedade só progride quando as pessoas ajudam-se de modo fraterno. Todavia, ao analisar a conjuntura da concessão de órgãos no Brasil, percebe-se que esse ideário iluminista não é totalmente praticado. Nesse contexto, pesquisas da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) demonstram que em média 46% das famílias de possíveis doadores dizem não à doação, ao serem abordadas. Tendo como principal motivo a desinformação sobre como funciona o processo de doação.           Ademais, deve-se analisar as questões infraestruturais que permeiam o desafio da doação de órgãos no país. De fato, a maior parte das equipes capazes de realizar um transplante de órgãos, com excelência, está localizada no sul e sudeste do país. Consequentemente, nas regiões Norte e Nordeste, apresentam baixos índices de doações, haja a vista a dificuldade de realizar tais cirurgias sem profissionais, ambiente e equipamentos adequados. Dessa forma, nota-se uma má distribuição das esquipes de capitação e de transplantes, o que leva a milhares de mortes anualmente, só em 2016, morreram 2.013 pessoas que estavam na fila por um órgão.         Urgem, destarte, medidas basilares as quais toquem a questão no seu cerne: reestruturação e conhecimento. Logo, faz-se necessário que o Ministério da Saúde, a longo prazo, invista parte da verba destinada ao setor para abertura de concursos para cirurgiões especialistas, bem como construção de mais centros de doação nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, com a finalidade de que as concessões de órgãos deixem de ser polarizadas nas faixas sul e sudeste do país. Além disso, cabe à mídia, conjuntamente com ONG’s especializadas na temática, incentivar as famílias a aceitarem a doação dos órgãos de potenciais doadores, por meio de ficções engajadas, sobretudo nos intervalos comerciais em horário nobre, as quais demonstrem real importância da capitação de órgão e tecidos, a fim de atingir um maior nível de conhecimento e interesse por parte da sociedade. Só assim, o Brasil destacar-se-á como uma potência mundial no quesito doação de órgãos e o ideário iluminista da fraternidade será experimentado na prática na sociedade tupiniquin.