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Enviada em: 03/11/2017

O Sistema Único de Saúde (SUS), criado com a Constituição de 1988, é encarregado de garantir o direito ao transplante de órgãos a todos os cidadãos. Entretanto, por mais que haja essa premissa legal, presenciam-se diversos obstáculos para a efetivação de tais doações - ora pelas problemáticas existentes no SUS, ora pela cultura do individualismo do homem contemporâneo. Logo, é preciso modificar esse cenário, para tornar mais exequível a prática do transplante no Brasil.      Em primeiro lugar, deve-se analisar os entraves existentes na esfera da saúde pública para efetuar tal procedimento cirúrgico. Por mais que o SUS financie mais de 95% dos transplantes realizados no país, e que este sistema subsidie os remédios imunossupressores após a cirurgia, é visível a falta de infraestrutura adequada para esse processo - seja pela morosidade do atendimento, a qual está atrelada não só à carência de doadores, como também ao sistema de gestão ineficiente; seja pelos equipamentos médicos ultrapassados nos hospitais. Portanto, perpetua-se a precariedade estrutural do SUS em paralelo à permanência das dificuldades de realizar os transplantes.        Ademais, é preciso salientar o posicionamento da população frente a essa questão social. Como analisou o filósofo polonês Zygmunt Bauman, a efemeridade das relações interpessoais acarreta o individualismo dos seres humanos. Ao seguir essa linha de pensamento, pode-se asseverar que este caráter está intrinsecamente relacionado à decisão, por parte das famílias, de não quererem executar a doação, relativizando as necessidades do outro e carecendo de um exercício de alteridade e do altruísmo efetivo - ato defendido pelo australiano Peter Singer. Somada a isso, a falta de esclarecimentos no que tange aos benefícios para o receptor, bem como a forma do procedimento, configuram-se como obstáculos para o procedimento cirúrgico, o que evidencia a necessidade de formar noções mais engajadas nesse aspecto.         Tornam-se prementes, portanto, mediações que visem à concretização da doação de órgãos. Para tal fim, os órgãos governamentais devem destinar verbas, arrecadadas de impostos progressivos, para reformas na infraestrutura do sistema do procedimento - como a modernização de aparelhos médicos e a implantação de uma gestão mais eficiente, para aumentar quantitativa e qualitativamente a execução de cirurgias. Outrossim, as emissoras de televisão devem ressaltar informações sobre o transplante de órgãos, retratando em telenovelas e em programas de discussão todas as referências desse tema, para aumentar o grau de informatividade e a solidariedade das pessoas.