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Enviada em: 28/06/2019

Conforme a teoria "Habitus" de Pierre Bourdieu, a sociedade tende a incorporar determinada estrutura de modo a neutralizá-la e reproduzi-la. De fato, observa-se esse panorama no contexto excludente ao qual o idoso é submetido no Brasil, haja vista a inércia da população no tocante à garantia dos direitos das pessoas de terceira idade, bem como ao combate às violências contra esse público em questão. Assim, cabe analisar os obstáculos ao envelhecimento, decorrentes não só da ausência de aparato estatal, mas também das demais instituições sociais.             Em primeiro plano, é válido destacar o quão falho é o Estado, enquanto membro representativo do conjunto nacional, em se tratando da promoção de direitos da pessoa idosa. Em síntese, isso é constatado quando coloca-se em pauta o fato da população com faixa etária igual ou superior à 60 anos crescer consideravelmente desde a década de 80, mas somente em 2003 ser instituído o Estatuto do Idoso. Concomitantemente, ao passo em que os órgãos públicos se isentam da fiscalização quanto ao cumprimento das prerrogativas estabelecidas por esse regimento, os idosos não alcançam, na prática, um envelhecimento saudável, pois estão vulneráveis às condições de segregação e desrespeito, principalmente no que alude ao acesso à saúde pública, esporte, lazer e cultura.           Outrossim, agentes como a família e a mídia corroboram com tal problemática. Este, por não vincular aos programas televisivos informações acerca dos direitos dessa parcela da população, deixando-a, geralmente, exposta às mais diversas formas de exploração e violência. O núcleo familiar, por sua vez, frente ao cenário moderno, no qual o trabalho tornou-se prioridade, destina cada vez menos tempo e cuidados para com os idosos que, gradativamente, passam a viver em solidão, a qual, segundo pesquisa publicada pela revista Perspectives on Psycological Science, pode ser tão nociva à saúde quanto fumar 15 cigarros por dia ou ser alcoólatra. Desta maneira, essas instituições configuram-se como facilitadoras do descaso enfrentado por esse grupo tão desamparado da sociedade brasileira.      Exposto isso, medidas são necessárias para reverter esse quadro. A priori, cabe ao Ministério da Educação inserir na base comum curricular uma disciplina sobre longevidade, com o intuito de desenvolver nos jovens a sensibilidade de que eles serão os futuros idosos da população e, por isso, devem tratá-los como gostarão de ser tratados. Ademais, a Secretária de Assistência Social em conjunto com o Ministério da Saúde deve criar um programa de inclusão, no qual estudantes e profissionais da área da saúde darão assistência médica, nutricional, física, odontológica, entre outras, além de promoverem atividades de lazer, cultura e esporte com as pessoas de terceira idade. A partir disso, a ideia "habitus'' relacionada ao descaso social não será mais uma realidade brasileira.